Andava vagueando pelas salas num passo bem lento porque para apreciar todas as belezas expostas, só mesmo com muito tempo. O edifício era bem alto, tipo palacete com paredes grossas e janelas em ogiva. O dia estava muito claro, o sol era muito luminoso… Como sempre, os meus filhos acompanhavam-me nestes passeios e visitas às exposições, que tantas vezes fazíamos…
A verdade é que, de um momento para o outro, deu-me a sensação de ter ficado só. Olhei em redor não via vivalma. De um momento para outro desapareceu-me o meu filho mais velho.
Tentei chamar, gritar, mas a voz estava presa. Nem um ruído saía. Que desespero o meu! Transpirava! O esforço que fazia para me mover e gritar era em vão. Nem uma sílaba saía – estou louca, pensei. Não estou neste local!
Mas como que por assombro meu, vi um vulto aparecer a uma das muitas portas, e eu sem conseguir falar. O vulto, que era nada mais nada menos que um amigo de meu filho diz-me de um modo cruel, teu filho morreu. Encontra-se no velório da igreja para ser cremado.
Fiquei louca! Corri para o rapaz e bati-lhe tanto, que pensei, também o mato! Até que alguém me arrancou o rapaz das mãos.
De modo mais racional, pensei eu, e comentei: meu filho não vai ser cremado sem ser autopsiado. Primeiro exijo saber a causa de sua morte…
Ouvi uma voz desconhecida que disse, não tens o direito de exigir nada. Teu filho já fez dezoito anos e pediu para que assim fosse!
Acordei… Estava louca, impávida, de olhos arregalados, as lágrimas caindo e o pranto era de tal modo que nem me conseguia mexer… com medo de ser verdade.
Foi um pesadelo. Um pesadelo que se repete muitas vezes em meus sonhos!
E o medo de perder quem tem uma vida para viver enlouquece-me!
Pela ordem normal da vida eles é que terão um dia de fazer o luto por mim. Sobrevivendo-me.
05 Março de 2009
sexta-feira, 13 de março de 2009
Lembranças
Era esguia, de uma beleza invulgar, cabelo preto comprido, preso por umas tranças de lado, toda ela sorria.
Era a terceira dos quatro filhos. Parecia uma gazela, suas pernas ágeis tudo trepava. E por incrível que pareça a sua maior alegria era estar bem debaixo das saias da mãe…Apesar das traquinices, no seio da família é que se sentia bem.
Mas, estava prestes a acabar…
Haviam uns primos do pai, que viviam mais afastados daquela aldeia, e que eram um pouco abastados, Como lhes dava um certo prestigio terem serviçais em casa, a pobre garota foi forçada a ir trabalhar a troco de meia dúzia de tostões, comida e dormida.
Isso era um alívio para os pais, havia mais uns cobres no fim do mês e menos uma boca a comer.
A pobre miúda com dez ou onze anos, estava angustiada, por se ver em casa estranha e sem os pais e irmãos, a todo o momento chorava, as noites eram tormentosas, encontrava-se em casa estranha e para maior infelicidade a petiz era constantemente molestada pelas primas “finas” filhas do patrão, ora lhe chamavam galga de forma pejorativa, pela sua elegância e beleza, ora juízo de passarinho, como se a pobre garota não soubesse pensar.
Ela que na sua aldeia era o ídolo da criançada, todos, todos a seguiam.
Mas como não bastasse não viam a sua idade e tudo a mandavam fazer: lavar a roupa no tanque de manhã, que para o fazer a menina tinha de partir a camada de gelo que tinha a água, as lágrimas corriam, e os soluços tomavam conta dela, e as “ finas” sempre a massacrar.
Por um lado os pais estavam descansados a filha estava a trabalhar e o resto não importava, era obrigação dela, visto já ter feito todos os estudos ( a 4ª classe).
Mas o coração da pequena não aguentava o modo como era tratada e as saudades de casa faziam-na sofrer demais.
Um dos dias que foi à fonte buscar água, pensou, porque não agora? E se bem o pensou melhor o fez. Largou tudo e sem conhecer o caminho meteu pés ao caminho atravessando terrenos, montes fazendas, sítios que nem sequer sabia existirem, mas o seu sentido de orientação pelo sol levou-a a bom porto.
Claro que ficou com um medo de morte pelo que lhe iria acontecer, já sabia que a violência física iria ser aplicada em si, ser tão frágil, franzina e carente, que só fugia para ter amor.
Como tinha medo de apanhar tareia, foi ter com a avó materna, que a amparou e a escondeu até que pôde.
Ora no final da tarde, e como a menina não havia voltado da fonte, os primos telefonaram para o único telefone existente na aldeia, dando a conhecer que a menina havia fugido. É obvio que os pais apesar de tudo ficaram preocupados, e a mãe correu pela aldeia para ver onde ela estava. Quando se apercebeu de que a avó a tinha escondido, ficou possessa, e gritou: saia da frente da miúda senão levam as duas…
A avó não teve remédio e a garota lá foi de rastos a chorar e a levar pancadaria, como não foi suficiente e a mãe ainda não satisfeita, fez as queixas ao pai, que se encontrava já bastante atestado de vinho.
E a melhor maneira que lhe pareceu para a castigar, como se não tivesse já sido castigada, foi desancá-la com o cinto, e tanto bateu que a fivela abriu uma brecha na cabeça da criança e o sangue jorrou por todos os lados, satisfeitos com a acção pois o bater era comum neste casal.
A criança ficou bem mal, estive cerca de dez dias de cama tal foi o maltrato.
Eu sei que “ casa que não tem pão todos ralham e ninguém tem razão “ mas isso não deveria ser motivo para maltratar uma criança linda e ternurenta que só corria para os pais em busca de amor…
O tempo passou e a bela garota agora com idade adulta, já se encontrava em Lisboa a trabalhar. Os problemas continuaram a ser imensos para certas mentalidades.
A garota, agora mulher tinha uma figura linda, era alta, bem elegante, cintura fina, olhos escuros e vivos, boca bem desenhada, e claro bem namoradeira… Os pretendentes pareciam abelhas em volta das flores.
E aí os problemas surgiam de novo, sempre que os pais tinham uma informação desta ou daquela, porque a inveja roía… A garota bonita era malhada com o que houvesse à mão.
Até que um dia e para alivio dos pais, a menina arranjou um namorado na América, era ideal para seus problemas terminarem e não haver mais falatório a respeito da mesma.
O noivo veio a Portugal casar. E a pobre garota que só queria estar com os pais, viu-se de malita na mão com meia dúzia de peças de roupa e lá seguiu vida nova.
Para os pais foi um alívio, mas o sofrimento da garota não ficava por aí…
Hoje já com idade avançada, mãe e avó, doente a cansada, ainda recorda bem demais, a falta que lhe fez a casa dos pais, o que mais queria era um sonho, o sonho de ser amada e bem tratada por quem lhe deu a vida.
Ser pobre é o quê? Não ter dinheiro! Sim , será?
Mas pobre de coração o que será? Rejeitar e tratar mal quem saiu de dentro de si?
Eu acho que é maldade.
Mas tudo passa na vida e hoje o que a garota mais quer , é que não façam a ninguém aquilo que fizeram com ela.
03 de Março de 2009
Margarida
Era esguia, de uma beleza invulgar, cabelo preto comprido, preso por umas tranças de lado, toda ela sorria.
Era a terceira dos quatro filhos. Parecia uma gazela, suas pernas ágeis tudo trepava. E por incrível que pareça a sua maior alegria era estar bem debaixo das saias da mãe…Apesar das traquinices, no seio da família é que se sentia bem.
Mas, estava prestes a acabar…
Haviam uns primos do pai, que viviam mais afastados daquela aldeia, e que eram um pouco abastados, Como lhes dava um certo prestigio terem serviçais em casa, a pobre garota foi forçada a ir trabalhar a troco de meia dúzia de tostões, comida e dormida.
Isso era um alívio para os pais, havia mais uns cobres no fim do mês e menos uma boca a comer.
A pobre miúda com dez ou onze anos, estava angustiada, por se ver em casa estranha e sem os pais e irmãos, a todo o momento chorava, as noites eram tormentosas, encontrava-se em casa estranha e para maior infelicidade a petiz era constantemente molestada pelas primas “finas” filhas do patrão, ora lhe chamavam galga de forma pejorativa, pela sua elegância e beleza, ora juízo de passarinho, como se a pobre garota não soubesse pensar.
Ela que na sua aldeia era o ídolo da criançada, todos, todos a seguiam.
Mas como não bastasse não viam a sua idade e tudo a mandavam fazer: lavar a roupa no tanque de manhã, que para o fazer a menina tinha de partir a camada de gelo que tinha a água, as lágrimas corriam, e os soluços tomavam conta dela, e as “ finas” sempre a massacrar.
Por um lado os pais estavam descansados a filha estava a trabalhar e o resto não importava, era obrigação dela, visto já ter feito todos os estudos ( a 4ª classe).
Mas o coração da pequena não aguentava o modo como era tratada e as saudades de casa faziam-na sofrer demais.
Um dos dias que foi à fonte buscar água, pensou, porque não agora? E se bem o pensou melhor o fez. Largou tudo e sem conhecer o caminho meteu pés ao caminho atravessando terrenos, montes fazendas, sítios que nem sequer sabia existirem, mas o seu sentido de orientação pelo sol levou-a a bom porto.
Claro que ficou com um medo de morte pelo que lhe iria acontecer, já sabia que a violência física iria ser aplicada em si, ser tão frágil, franzina e carente, que só fugia para ter amor.
Como tinha medo de apanhar tareia, foi ter com a avó materna, que a amparou e a escondeu até que pôde.
Ora no final da tarde, e como a menina não havia voltado da fonte, os primos telefonaram para o único telefone existente na aldeia, dando a conhecer que a menina havia fugido. É obvio que os pais apesar de tudo ficaram preocupados, e a mãe correu pela aldeia para ver onde ela estava. Quando se apercebeu de que a avó a tinha escondido, ficou possessa, e gritou: saia da frente da miúda senão levam as duas…
A avó não teve remédio e a garota lá foi de rastos a chorar e a levar pancadaria, como não foi suficiente e a mãe ainda não satisfeita, fez as queixas ao pai, que se encontrava já bastante atestado de vinho.
E a melhor maneira que lhe pareceu para a castigar, como se não tivesse já sido castigada, foi desancá-la com o cinto, e tanto bateu que a fivela abriu uma brecha na cabeça da criança e o sangue jorrou por todos os lados, satisfeitos com a acção pois o bater era comum neste casal.
A criança ficou bem mal, estive cerca de dez dias de cama tal foi o maltrato.
Eu sei que “ casa que não tem pão todos ralham e ninguém tem razão “ mas isso não deveria ser motivo para maltratar uma criança linda e ternurenta que só corria para os pais em busca de amor…
O tempo passou e a bela garota agora com idade adulta, já se encontrava em Lisboa a trabalhar. Os problemas continuaram a ser imensos para certas mentalidades.
A garota, agora mulher tinha uma figura linda, era alta, bem elegante, cintura fina, olhos escuros e vivos, boca bem desenhada, e claro bem namoradeira… Os pretendentes pareciam abelhas em volta das flores.
E aí os problemas surgiam de novo, sempre que os pais tinham uma informação desta ou daquela, porque a inveja roía… A garota bonita era malhada com o que houvesse à mão.
Até que um dia e para alivio dos pais, a menina arranjou um namorado na América, era ideal para seus problemas terminarem e não haver mais falatório a respeito da mesma.
O noivo veio a Portugal casar. E a pobre garota que só queria estar com os pais, viu-se de malita na mão com meia dúzia de peças de roupa e lá seguiu vida nova.
Para os pais foi um alívio, mas o sofrimento da garota não ficava por aí…
Hoje já com idade avançada, mãe e avó, doente a cansada, ainda recorda bem demais, a falta que lhe fez a casa dos pais, o que mais queria era um sonho, o sonho de ser amada e bem tratada por quem lhe deu a vida.
Ser pobre é o quê? Não ter dinheiro! Sim , será?
Mas pobre de coração o que será? Rejeitar e tratar mal quem saiu de dentro de si?
Eu acho que é maldade.
Mas tudo passa na vida e hoje o que a garota mais quer , é que não façam a ninguém aquilo que fizeram com ela.
03 de Março de 2009
Margarida
segunda-feira, 9 de março de 2009
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