sexta-feira, 29 de maio de 2009

O meu Pick


Pretendo com este símbolo no meu blogue mostrar a beleza, força, dedicação, entrega. E submeter à aprovação/reprovação de todos os que o vêm, aceitando críticas. Também porque é um animal de minha eleição.Os seus olhos me transmitem ternura e olhando-o nos olhos vejo a transparência a força e a doçura do seu interior.
Guida

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A minha pedra
















Bati com a porta e saí.
Irritada como estava com esta vida que não é a minha vida. Vida parada, estática, monótona, sem afazeres, sem objectivos, e como pode alguém viver assim?
Meti-me no carro e andei sem destino durante nem sei quanto tempo.
Até que sem me aperceber e com este turbilhão de ideias a moerem-me o juízo.
Acabei por parar junto ao mar e naquela pedra tão especial que costuma ouvir meus queixumes me sentei.
Era meia tarde, os meus sentimentos estão muito revoltos, mas dei comigo a pensar nesta caixa com tanto conteúdo que é nosso cérebro, tudo muito bem arrumado ou muito desarrumado por vezes, e com algumas caixas a quererem sair do armário e sacudir o pó. A maior parte delas não são boas.
Aquelas que dizem respeito ao meu ser tento fazer separação de sentidos , mas mau grado meu revolto-me contra mim.
Será que na vida só a mulher tem deveres? E as regalias quem as tem?
Ainda bastante irritada por estas perguntas a mim mesma, e sem achar as respostas que toda a vida tenho procurado dar a mim própria.
O calor era bastante, o sol teimou em me beijar a tarde toda e a minha cara estava já bem escaldada, seria do sol ou do vulcão existente dentro de mim e que estava em efervescência tal era a irritação que me provocava a vida.
A retrospectiva que fazia não era boa o que sentia era revolta por ter sido tolerante e benévola toda a minha existência e que tinha lucrado? Nada!... Bem sei que quando as doenças aparecem não se fazem anunciar, mas que raio, à que lutar contra ela, a vida é feita de luta, mas os homens acomodam-se e é por esse comodismo que estou assim…
Mas este sol continua a fustigar-me a cara como que a dar-me força, como que a renovar-me energias, e vem-me à ideia aquele ditado popular “ Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé”.
Mas com tudo isto penso que também não existe só lamentações, estas são só em espaços temporais, caso contrário ninguém aguentava.
A vida tem de ser partilhada no bom e no mau. E como nunca houve partilha eu sempre carreguei o fardo, acho que isso é que me deixa tipo vulcão e furibunda…
O sol está quase a roçar a linha do horizonte, e o meu corpo está mole, devido ao calor e ao cansaço, valeu-me uma brisa suave que começou a roçar-me a cara e os cabelos…
De repente como se tivesse sido picada por um insecto ou uma descarga eléctrica, despi a roupa fiquei em fato de banho, e nun impulso atirei-me à água e nadei com braçadas rápidas em direcção ao por do sol. A sensação é divinal deixei-me ficar a saborear a leveza do mar e o seu sussurrar nos meus ouvidos como que a querer tranquilizar-me das minhas angústias. Assim permaneci muito tempo, ora boiando, ora mergulhando com uma sensação de paz em meu espírito.
Os peixitos vieram ao meu encontro, alguns mesmo roçando as minhas pernas não sei se as beijando se dizendo que faz aqui esta intrusa?
Estava deliciada e quando me apercebi do tempo que estive a namorar com o mar nadando para lá e esbracejando para cá, estava já a anoitecer, beijei os peixes beijei a água e saí para a minha pedra conselheira. E ele me disse baixinho:
- És tolerante e paciente amiga, mas pára! Olha para os lados e para a frente, a vida tem muita beleza ainda para a aproveitares, não desprezes o que ultrapassaste na vida, mas ainda tens muito mais para viver.
Vai à luta mulher…
As estrelas já estavam a cintilar no céu e a sua luminosidade estava a indicar-me o caminho.
A paz que senti sentada naquela pedra, e a que senti da envolvência que senti dentro de água , a sintonia com os peixes, fez-me olhar para uma realidade, o viver…
E decidi nesse momento, sorrir para a beleza da vida, sorrir para o bom que ela tem para nos dar, embora carregando com seus fardos…
E assim deixei meu recanto, onde revi mais uma vez um pouco do meu interior, e gostei do que estava a sentir, uma abertura onde pudesse entrar uma réstia de um sol diferente que me aquecesse a alma…

07 de Abril de 2009

Margarida Simão

domingo, 10 de maio de 2009

A Carneirinha





Sou deste signo, teimosa, alegre, amiga, tolerante, bem disposta.
Quero um mundo sem guerras, quero um mundo com amor

sábado, 9 de maio de 2009

A minha Ilha


Foto de:Clak Little.


Local onde abundam cores maravilhosas da natureza, onde o sonho é permitido, onde a calma nos invade, onde o sol tem outra luz, onde os sentidos estão despertos aos sons,onde os cheiros são mais suaves,onde o nosso sentir tem outra força...
Guida

sábado, 2 de maio de 2009

Cerejeira


Caminhos da vida


Sentado debaixo de uma cerejeira, numa noite de Agosto em que o luar era muito reluzente, sentindo o cheiro da terra e das árvores, interrogava-me quando voltaria novamente a ter aquela sensação de paz e a sentir aqueles cheiros tão familiares e agradáveis e com os caga-lume (pirilampos) andando à minha volta como que iluminando-me os pensamentos, ou a despedirem-se de mim. Não sei mas acho que até eles pressentiam o meu nervosismo, a minha tristeza, e ansiedade, pela nova vida que vem a caminho. A partida para a grande cidade de Lisboa está eminente.
Ontem como hoje, perdia-me em cogitações:
Terminei a 4ª classe e a família precisa de ajuda para as despesas da casa mais uns escudos fazem sempre jeito.
Assim, já fiz as minhas despedidas aos meus tios e tias já as fiz aos poucos... A da família da casa, meus pais e irmãos, irão comigo até à aldeia próxima que dista cerca de 3 km local onda passa a camioneta, que me conduzirá ao novo destino.
Com os gaiatos a saltitar, a minha partida nem irá dar motivo a choros, pois isso me deixar-me-ia bastante triste. Já chega, o afastamento, de todos os que mais quero, e o aperto que sinto no meu peito.
O meu pai na noite que antecedeu minha partida e quando lhe beijei a mão, pedindo sua bênção, (costume usual na minha aldeia,como sinal de respeito para com os mais velhos, e penso que provém da religião católica. É um hábito que nos é imposto desde a nascença), tentou-me transmitir como me deveria comportar, o respeito que deveria ter para com os mais velhos, e deu-me todos os conselhos e transmitiu-me todos os valores dignos de um homem de bem, mas eu senti foi o seu sofrimento por ver que seu filho teria que abandonar a casa em busca de melhor vida para todos.
Sou novo, eu sei, e tudo irá ser ultrapassado, Vou ver se consigo melhorar as condições de vida, pois na aldeia nada existe.
A noite alta continua , e eu aqui sentado, a terra cheirando a quente deste sol de Verão, os pirilampos vindo ao meu encontro, como que a quererem despertar-me deste meu sonhar acordado. Sinto o meu peito bastante contraído pelas saudades que sei vou sentir, mas como mais velho de quatro filhos irei, e lutarei, para melhorar as condições de nossa vida.
Mas, as imagens teimam em surgir à minha mente. Vem aquele episódio em que minha irmã a segunda dos quatro filhos, andava na brincadeira na cerâmica de meu avô. Lembro-me que existiam dois tanques quadrados aí com quatro metros de lado com cerca de 80 cm de altura, onde os empregados de meu avô, o Natalino e o Moura Guedes, amassavam o barro com uns ferros idênticos a catanas, mas mais grossos onde, depois de trabalhado, o barro iria para os moldes de madeira, para manualmente, se fazerem as telhas e os tijolos.
Ora no Inverno como não se podia fazer esse trabalho porque não havia sol suficiente para secar os materiais, os tanques ficavam cheios da água da chuva. Nós, miúdos endiabrados só íamos para onde não devíamos!...
A minha mana com três anos, e assim como ainda hoje sempre gostou de brincar, caiu dentro de um dos tanques. A água estava geladíssima. Ela esbracejava e quanto mais o fazia mais se afundava, para ela o tanque era enorme. Todos os miúdos gritaram por ajuda, mas a família estava um pouco longe, não ouvia! Os garotos correram a chamar gente, mas, então o meu primo mais velho que ela, com cerca de seis anos e num acto heróico e sem pensar no perigo, atirou-se à agua gelada e agarrou a garota com grande esforço e com a ajuda dos demais garotos conseguiu tira-la. Logo de seguida chegaram as minhas tias e a minha avó, que a viraram e fizeram com que deitasse fora toda a água engolida, a algazarra foi de tal modo que todo o povo da aldeia veio ver o que se passava.
A minha irmã ainda levou umas palmadas por não saber estar quieta e ficou de castigo. Os meus pais não ganharam para o susto.
E nesta noite, que antecede minha partida, tudo me vem à cabeça, será o medo do desconhecido?
A pobreza é muita, e um miúdo como eu fazer a escola tem de palmilhar 4km para um lado e outros tantos para voltar para casa.
A aldeia está longe de tudo, os agasalhos são poucos e pobres não têm dinheiro para irem para uma Escola Industrial ou Liceu.
Também me vem há ideia um Inverno em que meu pai matou o porco para salgar - não havia outro modo de guardar as carnes, e quando se mata o porco faz-se comida para toda a família. Eu era um garoto como tantos outros, todo cheio de genica e curiosidade, empoleirei-me num pilar da casa que não era rebuçada. Pus um pau num buraco de tijolo para poder ver tudo, claro que meia dúzia de tijolos me caíram em cima da cabeça.
O meu pai, sem dinheiro nem transporte, teve que chamar um táxi (coisa de ricos), o único numa zona de 30 km , para me levar ao hospital, enquanto a minha mãe me levava ao colo na direcção, de onde o carro haveria de chegar. Tinham telefonado do único telefone da aldeia. O meu pai seguiu à frente para pedir dinheiro emprestado para me poder tratar devidamente.
Ainda a noite é uma criança, como costumo ouvir os grandes dizerem, e eu aqui sem dormir, com estas coisas todas a virem à minha memória.
Fui operado à cabeça. Estive imenso tempo no hospital. Nem sei quanto! Perdi a noção, sofri várias intervenções cirúrgicas, mas graças a meus pais fiquei tudo se restabeleceu.
Hoje recordo o garoto humilde a caminho da cidade, que me esperaria?
Trabalho? Mas o trabalho nunca me assustou, assustam-me sim as pessoas mas o que for se verá.
Já perto da madrugada fui para a cama, mas pouco descansei. A emoção e o medo do desconhecido apavorava-me.
E assim, ainda o sol não tinha nascido, lá parti para a aldeia que existe no sopé da colina e que dista cerca de 3 km para apanhar o transporte para a cidade, apesar da distância da cidade ser cerca de 60 km a camioneta leva três a quatro horas a chegar a Lisboa.
A paisagem continua linda e, na altura tentava reter na memória o deslumbramento do raiar da aurora, a extensão que a nossa vista abrange até ao horizonte, é de dezenas de kilómetros, até as torres do convento de Mafra se avistam, e engraçado, antigamente não havia relógios como hoje e meu pai dizia muitas vezes as horas pelo sol, e para ele quando era meio dia, o sol estava entre as duas torres do convento de Mafra, e este dista da minha casa cerca de 30 Km.
Cheguei bastante cansado, não sei se pelos nervos se pelo receio do desconhecido.
E, meu Deus, o que me esperava uma mercearia onde o trabalho era carregar os cestos de compras para as senhoras! Mas não era pelo elevador! Era pelas escadas de serviço.
Dormia num vão de escada da loja e, à noite, a solidão era mais que muita. Valia-me os domingos porque ia para casa de minhas tias e, aí sim, tinha os miminhos todos, era adorado por todas elas. Meus pais entretanto sofriam com a minha ausência.
Continuei lutando e quis a vida que fosse fazer a tropa a Timor, local onde adorei estar. Muito pobre parecido com a minha aldeia, mas valeu pelos conhecimentos adquiridos.
A minha mana que se ia afogando, costuma dizer, que sou seu ídolo, o seu confidente, o seu irmão do coração, o seu amigo, um excelente filho, mas além de tudo um excelente ser humano.
E ainda hoje que já lá vão sessenta anos, a admiração que tem por mim creio que não tem limite.
Claro que voltei da tropa e com o que fui aprendendo ao longo da vida, minha vida está mais suave. Sou muito humano e tolerante, mas jamais esquecerei a luta e aprendizagem de vida que tive de fazer para chegar aqui.
Hoje estou com quase sessenta e quatro anos estou sentado debaixo da mesma árvore, pensando no que falhou na minha vida…
As separações... Os que partiram... , e não sei se sou mais feliz do que quando tinha a idade em que os dos caga-lume me beijavam a face.
Mais rico sou, pois minha filha enche-me a alma e com ela perto o meu coração brilha de amor.
28 de Fevereiro de 2009
Guida