
A vida era pacata, nada acontecia na aldeia.
Meu tio era serrador, o seu instrumento de trabalho: A serra braçal, e por vezes passava semanas fora de casa, quando o trabalho assim o exigia, lá seguia pelas florestas do país, para trazer uns parcos escudos, que mal dava para a família se alimentar, e a família tinha acabado de aumentar a minha terceira prima ainda só tinha um ano e já vinha outro a caminho.
Então teriam mesmo de fazer o que já haviam planeado, com a ajuda do governo da época o tio Afonso tratou da papelada, e a tia Ernestina ia fazendo umas roupitas para as meninas, que a viagem para Moçambique não tardava, iam como tantos outros procurar melhorar a vida assim como a de seus filhos.
Estávamos em meados dos anos cinquenta. Odete, a minha terceira prima, contar-me-ia mais tarde, quando começamos a trocar correspondência, que um dos locais por onde tinham passado tinha o nome do nosso avô Lourenço Marques, mas o local para onde os levaram verifiquei mais tarde que se situava no distrito de Cabo Delgado e a cidade chamava-se Pemba, local rico em madeira, e paradisíaco pelas suas praias.
O tempo passou, a Odete cresceu, e o militar apareceu, o romance nasceu, e os enamorados casaram, a primeira filha nasceu, a bomba rebentou, e o Eduardo perdeu, uma perna pelo ar, uns quantos dedos das mãos, e estilhaços a picarem!...