domingo, 28 de fevereiro de 2010

O que diariamente devemos fazer...


Dizem que todos os dias temos que comer uma maçã para o ferro e uma banana para o potássio.
Também uma laranja, para a vitamina C, meio melão para melhorar a digestão e uma chávena de chá verde sem açúcar para prevenir a diabetes. Todos os dias temos que beber dois litros de água (sim, e logo a seguir mijá-los, que leva quase o dobro do tempo que os levei a beber).
Todos os dias temos que tomar um Activia ou um iogurte para ter 'L. Cassei Defensis', que ninguém sabe exactamente que merda é que é mas parece que se não ingeres um milhão e meio todos os dias começas a ver toda a gente com uma grande diarreia ou presos dos intestinos.
Cada dia uma aspirina, para prevenir os enfartes mais um copo de vinho tinto, para a mesma coisa. E outro de vinho branco, para o sistema nervoso. E um de cerveja, que já não me lembro para que era. Se os tomares todos juntos mesmo que te dê um derrame cerebral ali mesmo não te preocupes pois o mais certo é que nem te dês conta disso.
Todos os dias tens que comer fibras. Muita, muitíssima fibra até que sejas capaz de defecar uma camisolita bem grossa.
Tens que fazer quatro a seis refeições diárias leves sem te esqueceres de mastigar cem vezes cada garfada.
Ora, fazendo um pequeno cálculo apenas a comer vão-se assim de repente umas cinco horitas. Ah, depois de cada refeição deves escovar bem os dentes, ou seja: depois do Activia e da fibra os dentes depois da maçã os dentes depois da banana os dentes
e assim, enquanto tiveres dentes sem te esqueceres nunca de passar o fio dental massajador das gengivas e bochechar com PLAX...
Melhor, amplifica a casa de banho e põe a aparelhagem de música lá porque entre a água, a fibra e os dentes vais passar horas quase metade do dia ali dentro.
Equipa-o também de jornais e revistas para te pores a par do que se passa enquanto sentado na sanita.
Temos que dormir oito horas e trabalhar outras oito, mais as cinco que usamos a comer, faz vinte e uma. Restam três horas sempre que não surja algum imprevisto.
Segundo as estatísticas, vemos três horas de televisão diárias.
Bem, já não podes porque todos os dias devemos caminhar pelo menos uma meia hora
(dado por experiência: ao fim de 15 minutos regressa senão andas mas é uma hora!)
E há que cuidar das amizades porque são como uma planta: temos que as regar diariamente. E quando vais de férias, também suponho senão as plantas morrem nas férias.
Para além disso há que estar bem informado e ler pelo menos um dos jornais diários e outro de uma revista séria para comparar a informação.
Ah! E temos que ter sexo todos os dias mas sem cair na rotina: temos que ser inovadores, criativos, renovar a sedução. Isso leva o seu tempo. E já nem estamos a falar do sexo tântrico!! ( A respeito disso, relembro: depois de cada refeição temos que escovar os dentes!)
Também temos que arranjar tempo para a maquilhagem, a depilação/fazer a barba, varrer a casa, lavar a roupa, lavar os pratos e já nem digo, os que têm gatos, cães pássaros e uma catrefada de filhos...
No total, a mim dá-me umas 29 horas diárias se nunca parares.
A única possibilidade que me ocorre é fazer várias destas coisas ao mesmo tempo:
por exemplo, tomas duche com água fria e com a boca aberta, e assim bebes logo os dois litros de água de uma vez. Enquanto sais do banho com escova de dentes na boca, vais fazendo o amor, o sexo tântrico, parado, junto ao teu mais que tudo, que de passagem vê TV e te vai contando o que se passa, enquanto varres a casa.
Sobrou-te uma mão livre? Telefona aos teus amigos e aos teus pais! Bebe o vinho (depois de telefonares aos teus pais vai fazer-te falta!). O iogurte com a maçã pode dar-te o teu par enquanto ele come a banana com a Activia.
No dia seguinte troquem. E menos mal que já crescemos, porque senão tínhamos que engolir mais umas cerelacs e um Danoninho Extra Cálcio todos os santos dias.
Úuuuf!
Mas se te restam 2 minutos, reenvia isto aos teus amigos (que temos que regar como as plantas) enquanto comes uma colherzinha de Muesli ou Al-Bran, que faz muito bem...
E agora vou deixar-te porque entre o iogurte, o meio melão o primeiro litro de água e a terceira refeição do dia já não faço a mínima ideia o que é que estou a fazer porque preciso urgentemente de uma casa de banho.
Ah, vou aproveitar e levo comigo a escova de dentes...
(Desconheço o autor)
28-02-2010
Margarida Simão

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Paradoxo do Nosso Tempo. George Carlin


"Nós falamos demais,
amamos raramente,
odiamos frequentemente.
Nós bebemos demais,
gastamos sem critérios.
Conduzimos rápido demais,
ficamos acordados até muito mais tarde,
acordamos muito cansados,
lemos muito pouco, assistimos TV demais,
perdemos tempo demais em relações virtuais,
e raramente estamos com Deus.
Multiplicamos nossos bens,
mas reduzimos nossos valores.
Aprendemos a sobreviver,
mas não a viver;
adicionamos anos à nossa vida
e não vida aos nossos anos.
Fomos e voltamos à Lua,
mas temos dificuldade em cruzar a
rua e encontrar um novo vizinho.
Conquistamos o espaço,
mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores,
mas pouquíssimas melhores.
Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo,
mas não nosso preconceito;
escrevemos mais,
mas aprendemos menos;
planeamos mais, mas realizamos menos.
Aprendemos a apressar-nos
e não, a esperar.
Construímos mais computadores
para armazenar mais
informação,
produzir mais cópias do que nunca,
cada vez comunicamos menos.

Estamos na era do 'fast-food'
e da digestão lenta;

do homem grande, de carácter pequeno;
lucros acentuados e relações vazias.

Essa é a era de dois empregos,
vários divórcios,
casas chiques e lares despedaçados.
Essa é a era das viagens rápidas,
fraldas e moral descartáveis,
das rapidinhas, dos cérebros ocos
e das pílulas 'mágicas'.
Um momento de muita coisa na vitrina e
muito pouco na dispensa.

Lembre-se de passar tempo com as
pessoas que ama, pois elas
não estarão aqui para sempre.

Lembre-se dar um abraço carinhoso
em seus pais, num amigo,
pois não lhe custa um centavo sequer.

Lembre-se de dizer " eu te amo" à sua
companheira(o) e às pessoas que ama,
mas, em primeiro lugar, se ame.

Um beijo e um abraço curam a dor,
quando vem lá de dentro.


Por isso, valorize sua família,
seus amores, seus amigos,
a pessoa que ama,
e, aquelas que estão
sempre ao seu lado."

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Rosa Lobato Faria


A escritora, letrista e actriz Rosa Lobato Faria, morreu, dia 2 de Fevereiro de 2010
aos 77 anos, depois de uma semana de internamento num hospital
privado. Foi colaboradora (dizendo poesias) de David Mourão-Ferreira
em programas literários da televisão. Autora, entre outros, dos
romances Flor do Sal, A Trança de Inês, Romance de Cordélia, O
Prenúncio das Águas, ou mais recentemente A Estrela de Gonçalo Enes
(ed. Quasi). Publicamos aqui a 'autobiografia' que escreveu para o JL
há dois anos.

Autobiografia.


Quando eu era pequena havia um mistério chamado Infância. Nunca
tínhamos ouvido falar de coisas aberrantes como educação sexual,
política e pedofilia. Vivíamos num mundo mágico de princesas
imaginárias, príncipes encantados e animais que falavam. A pior pessoa
que conhecíamos era a Bruxa da Branca de Neve. Fazíamos hospitais para
as formigas onde as camas eram folhinhas de oliveira e não comíamos à
mesa com os adultos. Isto poupava-nos a conversas enfadonhas e
incompreensíveis, a milhas do nosso mundo tão outro, e deixava-nos
livres para projectos essenciais, como ir ver oscilar os agriões nos
regatos e fazer colares e brincos de cerejas. Baptizávamos as árvores,
passeávamos de burro, fabricávamos grinaldas de flores do campo.
Fazíamos quadras ao desafio, inventávamos palavras e entoávamos
melodias nunca aprendidas.

Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas
inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas
como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como
verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a
surpreendente mania de acreditar que isso era bom.
Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.

E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs
trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a
angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria
(não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da
aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das
papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de
Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida
houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).

Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove
ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras
infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas
raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e
sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que
o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos,
depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de
baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.

Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as
necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo
literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o
Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te,
menina, que vais ser escritora.

Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a
música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu
coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas,
vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele
molhávamos os pés e as almas.

Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves.
Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde
saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem
vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que
não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com
palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave
na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca,
vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem
uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu
amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora
do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as
nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre
que ninguém tinha na vida real).

Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a
Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me,
ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido).
Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que
resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos.
Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente,
isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como
todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque
sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre
foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às
gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se
contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução
que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS
fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É
preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo,
quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era
acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.

Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho,
erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito
bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra
chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda
espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a
Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta
até, praticamente, ao infinito.

Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que
estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A
ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia
crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63
anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez
romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete
ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê,
pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse
como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando
vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me
atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e
me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).

Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se
muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da
imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se
tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito
feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens.
Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça,
idade ou religião. É um progresso enorme.

Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30,
comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer
umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas
destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é
uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria
gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não
há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e
sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores.
Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.

Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das
coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o
que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma
e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me
cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e,
no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.

Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para
contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só
me dão este espaço que, para 75 anos de vida, convenhamos, não é excessivo.
Encontramo-nos no meu próximo romance.

Perguntei a um sábio!...


Perguntei a um sábio,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é plantado
e com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.

William Shakespeare

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Memórias


Gostaria de ver um dia a transcrição no papel do que eu sentia e via nas minhas idas para a escola.
Na final da década de 50 do séc. Passado, as escolas eram longe da maioria das aldeias e as crianças que a frequentavam caminhavam alguns kilometros por montes e vales alheios a tudo o que os rodeava, Só pensavam na brincadeira que a caminhada lhes proporcionava.
Hoje passados 50 anos, tento refazer na minha mente a beleza da caminhada e quão feliz me sentia, com tudo o que existia à minha volta.
Lembro-me melhor da caminhada da escola para casa, do que de casa para a escola, possivelmente por estar mais frio da manhã e de ser mais difícil para as crianças a caminhada a essa hora.
Saída da escola à tarde, uma mala de madeira na mão, feita por meu pai, com os fechos a brilhar, e toda ela bem polida, marcava para mim a diferença entre as sacolas de serapilheira, e a minha mala de madeira.
O relevo do local é bem acentuado e seguíamos direcção a sul, do nosso lado direito, e vista é deslumbrante, temos ao longe um vale a que chamam a pedra do sino, e na linha do horizonte o azul de vários tons do belo atlântico que nos banhava.
Seguindo então para sul íamos passar junto à igreja velha, por carreiros estreitos a cortar caminho, de um lado tínhamos milho semeado do outro lado tremoço, de quando em vez seguíamos mesmo pelo meio das culturas pelo prazer que nos dava o contacto com as plantas e a terra, até o barulho que as plantas faziam ao passarmos nos encantava.
A seguir surgia-nos o sopé de um monte e onde corria um regato com a água mais cristalina que me lembro ter visto… Aí tirávamos os sapatos e a alegria era geral, pés dentro de água e paragem obrigatória para comer o resto do lanche, afim de termos forças para o resto da caminhada. Depois de extravasarmos as nossas emoções com as brincadeiras de crianças, colocávamos os sapatos às costas e lá seguíamos a caminhada, agora subindo um monte tínhamos um pinhal à nossa volta, é difícil descrever a paisagem de tão linda que é, lado direito a beleza do mar no horizonte, antecedendo-lhe uma vegetação intensa com um riacho de água pura no sopé, envolvendo-nos estavam os pinheiros com seu barulho característico, e terreno arenoso. Chegado ao cimo tínhamos outra panorâmica, já nos aparecia as primeiras casas de um pequeno local a que chamávamos ”Casais Netos”, porque a família que aí vivia tinha o apelido de “neto”, percorríamos todo o percurso sem se ver vivalma, a nossa cantoria, correria, gargalhadas, alegria acompanhava-nos todo o percurso.
Subíamos mais um pouco e passávamos por um moinho tradicional, onde nossos pais mandavam moer o grão, e o moleiro pai de uma das garotas que nos acompanhavam.
Junto ao moinho muitas vezes parávamos para fazer os trabalhos de casa, porque à noite não podia ser, deitávamo-nos cedo e não havia luz eléctrica. Junto ao moinho imperava o nosso silêncio para podermos ouvir o barulho das velas e das bilhas de barro pequenas presas nos panos das mesmas, faziam um assobio lindo que nos encantava, e adorávamos ouvir o moleiro com o seu burrito ao lado, contando as suas histórias de bruxas, que nos deixavam fascinadas mas cheias de medo.
Depois desta pausa, lá seguíamos cada uma para suas casas, o sol começava a baixar e não tardava era noite, se chegássemos mais tarde a apoquentação era geral, e seria a ultima coisa que pretendíamos era zangar nossos pais.
E em nossos sonhos voltavam as histórias ouvidas ao moleiro e aos mais idosos da aldeia.
06 Fevereiro de 2010
Margarida simão