sábado, 19 de dezembro de 2009

A Minha Paz

Ter paz é brincar com as crianças,
Voar com os passarinhos,
Ouvir os riachos quando desliza sobre pedras e embala os ramos verdes que em suas águas se espreguiça,
Ter paz é aprender com os próprios erros, e dizer não quando se quer dizer…
Ter paz, é ter coragem de chorar de sorrir quando se tem vontade
Ter paz, é ter forças para voltar atrás pedir perdão, refazer caminho e agradecer…
A paz que trago hoje em meu peito, é a tranquilidade de aceitar os outros como são, e a disposição para mudar as próprias imperfeições.
É a humildade de reconhecer que não sei tudo, e aprender, aprender…
É a vontade de dividir o pouco que tenho, e não me aprisionar ao que não possuo, é melhorar o que está ao meu alcance, aceitar o que não pode ser mudado.
É ter a lucidez de distinguir uma coisa da outra.
É admitir que nem sempre tenho razão e mesmo que tenha, não brigar por ela.
A paz que hoje trago em meu peito, é a confiança em quem aplica a palavra Shikoba

2 Dezembro 2009
Guida

domingo, 1 de novembro de 2009

Flores


Não me pises por favor , diz a flor cor de rosa,
Sou como tu um amor escrito em verso ou em prosa.
Há flores de todas as cores semeadas no coração... Todas trazem amor, mesmo as nascidas no chão.
Tu linda menina em que terra tu nasceste? Tu nasceste tão pequenina, olha como tu cresceste!
Tuas pétalas perfumadas, por teus nobres sentimentos, ornamentam as estradas, onde passam os teus sentimentos…
1/11/2009
Guida

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Gotas


Amor. Bolinhas de sabão. O som de copos com água. O som das gotas no chão. Um sorriso tímido. A música por trás dos ruídos. Um coração encostado no outro. Um ou dois para sempre. Um avião nas mãos de um menino. Um barquinho de papel. Uma pipa atravessando as nuvens. Uma sementeira de tulipas. Umas papas de aveia. Um par de meias às listas. Dois ou três cata-ventos. Uma palavra inventada.
Rita Apoena

Sons


Toma o amor guardado entre as conchas da minha mão. Dentro delas ouvi as ondas batendo em pedras e o espectáculo de um pequeno musgo nascido à beira de um raio de sol. Dentro delas, ouvi a terra aninhando sementes e plantas entrelaçando a ponta de suas raízes. Finas raízes tentando sustentar o mundo sob as placas de cimento. As placas de cimento, de onde germinam as casas e crescem as pessoas, entrelaçando a ponta de seus braços e o mais fundo de seus corpos pela noite escura. Dentro delas, ouvi o mundo inteiro tentando ser par... e ouvi a ponta de tuas asas tocando minhas costas nuas, teu instrumento de cordas e suspiros profundos.
Rita Apoena

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Nétinhas

 
Posted by Picasa

Nétinhas
Andava eu perdida na montanha, desesperada por encontrar a estrada que me daria acesso ao hotel, de onde tinha saído ainda o sol não raiara, para poder fazer as minhas investigações do terreno..
O dia tinha amanhecido bonito, mas nesta altura do ano - inicio de Dezembro, todo o cuidado era pouco, eu vim bem apetrechada de lanche na mochila, água encontro com facilidade pelas escarpas onde cai sempre umas quedas de água minúsculas, mas suficientes para saciar a sede a qualquer veraneante que se encontre por aqui.
Mas a minha curiosidade em ver todos os pormenores, falar com todas as pessoas da serra que encontro, não me deixa descansada e leva-me a ir sempre mais longe na minha busca.
Vejo ao longe uma casinha de pedra muito pequena mas de onde saía pela chaminé um fumo bem preto como se estivessem a queimar algo tipo borracha. Fui-me aproximando.
Bati à porta, mas qual quê? Ninguém me ouvia tal era a azafama. Meti a cabeça para lá da porta, e vi o que estava a acontecer – um forno estava a aquecer…
Uma senhora de meia idade, atarefadíssima metendo para dentro do forno , hastes, troncos, videiras e outros restos de mato, para que o forno aquecesse, ao lado numa bancada estava dois alguidares de barro um com massa de trigo já amassada e levedada, o outro nas mesmas circunstâncias mas com farinha de milho, só faltava mesmo o forno aquecer.
Boa tarde minha senhora – disse eu. Olá boa tarde, resposta bem apressada. Peço desculpa senhora mas a massa está no ponto e este forno como a lenha está um pouco húmida teima em demorar a aquecer, assim que estiver em ordem, poderá ajudar-me a pôr o pão no forno e aí vamos conversando ?
Esperei um pouco mais e a minha anfitriã sempre de forquilha em punho para empurrar a lenha, logo se voltou para mim com um sorriso feliz, e disse: está em ordem para que o pão fique o mais saboroso do mundo… Com uma desenvoltura de fazer inveja, ela me explicou como deveria fazer que o pão ficasse com um determinado formato e como eras costume naquele local. A farinha voava e eu esforçava-me – não me estava a sair mal.
Até que todo o pão foi colocado miraculosamente naquele espaço redondo, com a o espaço entre uns e outros de poucos milímetros mas suficientes para que não se juntassem.
A medida utilizada era o alqueire, neste caso a senhora amassava meio alqueire de farinha de trigo que dava cerca de 14/15 pães e um quarto de alqueire de farinha de milho, onde fazia 5/6 pães, porque a farinha é bem mais pesada.
Enquanto trabalhávamos íamos trocando conhecimentos, e ela ficava boquiaberta com a o meu desconhecimento sobre as coisas do campo e de como se faz o pão e tantas outras coisas que na cidade nem pensamos nelas.
E o pão com toda esta conversa estava "a modos" – expressão utilizada no local, para sair do forno . E com uma destreza de mãos a senhora agarrou numa pá feita de madeira mas com um cabo bem grande, onde um a um , ia tirando o pão passando-lhe uma vassoura de palha para tirar o que restava da farinha indo colocando os mesmos numa bancada onde se encontravam uns cobertores próprios para o efeito, o pão ficava ali até arrefecer, para manter uma textura estaladiça e aguentar cerca de uma semana sem endurecer.
O engraçado que também eu desconhecia sempre que a senhora cozia o pão, fazia com a mesma massa uns pãezinhos pequeninos a que chamava netinhas, porque era um miminho para seus netos comerem quentes com azeite e açúcar, sendo a delicia da petizada.
Depois da ajuda inesperada que dei com muito prazer, e mais um pouco de conhecimento que obtive, lá me indicou a boa senhora o caminho a seguir sem me voltar a perder espero, de regresso ao hotel.
04 Setembro de 09
Margarida Simão

O Meu Mundo


Ao fundo ouvia-se o coaxar da rã.
A menina rã estava desolada, já era noite alta e ela encontrava-se só, muito só…
Queria arranjar uma companhia para que a solidão terminasse, e não se sentisse tão sozinha, naquele belo lago rodeado de árvores e arbustos e flores em abundância, até rosas de porcelana havia.
Como não tinha transporte para se deslocar, lá foi dando uns saltos aqui outros acolá. Sempre atenta aos perigos que lhe poderiam deparar…
Sempre atenta a outros animais que ameaçavam a sua existência.
Depois de muito caminhar, e já o sol despontava no horizonte a bela rã deu com uns olhos meigos que a olhavam com ternura, de uma bela rã macho! Linda de morrer!… Deu-lhe uma quebra de tensão, sentiu-se tão mal que logo a rã macho se prontificou para a ajudar. Era mesmo isso que ela pretendia e sentiu-se desfalecer nos braços fortes daquele que viria a ser o seu amado.
Olharam-se nos olhos tão intensamente, que logo se aperceberam que não mais se haviam de separar.
Depois de ter encontrado seu amado, e numa certa manhã de Inverno do ano de 1995, em que a chuva e o frio gelava os ossos, a vontade de saltar da cama tornou-a lerda.
Mas era necessário que a vontade se impusesse. E assim, de um salto a senhora rã de seu nome Taly, precisava de prosseguir seu caminho em busca da restante família de seu marido. Deu um salto da fôfa cama feita com pétalas de flores, e debaixo de uma gigante folha de bananeira.
Seu marido o senhor rã macho, de seu nome Ochaki, perdeu-se de sua família havia já um tempo.
A Taly vendo seu amado Ochaky sempre tão triste, decidiu que haviam de fazer umas viagens procurando a família perdida.
Taly era uma bela rã, pernas esguias, e bem ágeis verde-claro da parte superior e com uns tons amarelados na parte inferior, a barriga bem lisa de um branco pérola, olhos vermelhos luzidios, assim como sua língua, seus lábios bem desenhados esses eram de um tom preto brilhante, sua lombeira de um verde lago, quando a olhávamos sentíamos como que uma calma e paz interior, porque suas cores eram refrescantes e serviam-nos de tranquilizante.
Ochaky uma bela rã macho pôs a sua boina lilás ma cabeça, agarrou o seu trompete, que lhes fazia companhia em longas caminhadas e lá seguiu com sua amada em busca da sua família.
Os seus saltos ágeis e elegantes, convidavam-nos a rebolar nas ervas para que sentíssemos o cheiro da terra molhada. À noite quando nascia a lua e as estrelas nos servem de companhia é belo de ver os dois Taly e Ochaky rebolando na frescura do verde das ervas, como que a agradecer à natureza toda a beleza em seu redor.
E assim os dois se puseram a caminho, com uma bela trovoada como companhia… Seguiram por caminhos desconhecidos, e seguindo o instinto do sr. Ochaky, os saltos de ambos eram elegantíssimos e rápidos, depois de várias horas de folha em folha, de tronco em tronco, ficaram extasiados com um lago pequeno, mas com uma água transparente, cheia de nenúfares, o cheiro puro que se exalava, os deixava como que embriagados de tamanha beleza, o lago estava rodeado de altos arbustos, hortenses e orquídeas de várias cores. Ficaram sem conseguir articular palavra, deitados de costas com os braços atrás da cabeça e saboreando o resultado da caminhada.
Perderam-se no tempo a contemplar o paraíso que os rodeava.
O sol estava a tocar a o limite do horizonte com uns tons vermelhão e laranja lindos… despertando-os para uns sons que provenientes do outro lado do lago.
Aproximaram-se para ver quem os despertaria da sua felicidade pelo paraíso encontrado, e as suas bocas de lábios bem pretos brilhantes abriram-se de alegria, e coaxaram tão alto que assustou os outros habitantes do lago, correram para eles e abraçaram-se até perder o fôlego… Encontraram a família do sr. Ochaky, a felicidade era total, pela família encontrada e pelo paraíso descoberto.
Taly e Ochaky decidiram que esta seria uma boa opção para aumentar a família que queriam ter, e criá-la num paraíso terrestre, que o animal racional ainda não tinha descoberto.
01 Setembro 2009
Margarida Simão

domingo, 30 de agosto de 2009

Meus girassóis



Meus girassóis

Num jardim de milhentas plantas com variadíssimas cores e formatos, sobressaem de um cantinho muito particular duas plantas bem diversas – dois lindos girassóis.
Um girassol grande e um girassol pequeno, porque sou uma apaixonada desta flor logo as adoptei.
O meu girassol grande já tem outros interesses, o crescer, verificar se as folhas estão verdinhas, ver uma a uma as pétalas, se estão brilhantes e em perfeitas condições, bem humedecidas pelo orvalho da noite.
“… As flores do girassol, reunidas em inflorescência característica, são chamadas de capítulo. O receptáculo floral que contém o capítulo pode ser côncavo, convexo ou plano, sendo mais comum a forma plana…”
Ora bem, o meu girassol pequeno como é uma zeladora da terra, apaixonou-se pelo golfinho fêmea chamada “ Fyfy” e seu namorado Zipper, a paixão é tão forte que cuidou para que não houvesse desleixo da minha parte e colocasse a Fyfy e seu amado Zipper no meu blogue.
É com grande orgulho,que os coloquei aqui, para os ver com prazer e alegria sempre que abrir este meu local de trabalho.
30-08-2009
Margarida Simão

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Lágrima de preta


Lágrima de Preta

Composição: António Gedeão

Encontrei uma preta
que estava a chorar
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado

Olhei-a de um lado
do outro e de frente
tinha um ar de gota
muito transparente

Mandei vir os ácidos
as bases e os sais
as drogas usadas
em casos que tais

Ensaiei a frio
experimentei ao lume
de todas as vezes
deu-me o qu´é costume

Nem sinais de negro
nem vestígios de ódio
água (quase tudo)
e cloreto de sódio

Publicado por
Margarida Simão

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Rosas de porcelana




A janela estava aberta para que entrasse o fresquinho da manhã. De olhos ainda fechados, mas com uma preguiça de me levantar fiquei ali na madorna, saboreando os raios de sol que teimavam em me bater na cara.
Na moleza que me encontrava e como tudo em redor era silêncio, de repente comecei a ouvir um barulho, originado pelo pouco vento que corria, e como que a querer sacudir a preguiça que me invadia…
Mas a curiosidade era maior que o sono, e apesar de não ter programa para o dia decidi levantar-me. Espreguicei-me longamente e foi ver de onde provinha aquele som de “bate-bate” diferente mas provocado pelo vento.
Saí para o quintal apenas com o pijama fininho, e logo tiritei, estava um griso que fez arrepiar, mas a curiosidade logo fez esquecer o frio.
Espanto o meu, um caracol agarrado à haste de um pequeno arbusto, e que era arremessado consecutivamente de encontro à janela! Mas o pobre caracol bem agarrado não desistia da sua subida.
O quintal estava bem florido, e com cautela agarrei no animal e pousei-o junto a umas belas flores , existentes num canteiro e que nesta altura do ano tem as mais belas e variadas cores e n os mais diversos formatos.
No meio daquele vaso gigante de cores estava uma que se distinguia das demais pela sua beleza fora do comum. Era uma “ Rosa de Porcelana” a sua origem é africana, da zona de Lunda Norte e Lunda Sul de Angola. Desconheço como vieram aqui parar.
Mas como a sua beleza me deixa sempre extasiada retirei o caracol cuidadosamente para que a sua carapaça não continuasse a bater na janela e coloquei-o delicadamente junto às rosas, claro que ele não se fez rogado o local para ele fazer o seu passeio matinal era bem mais agradável, do que a bater nos vidros das janelas.
Belíssimo despertar o meu, porque todos os meus sentidos ficaram alerta.
Os meus olhos rejubilaram com o brilho do sol e o brilho das flores ainda cobertas de orvalho.
O meu olfacto ficou enlevado com os cheiros de terra molhada, com o suave perfume que as flores enviavam sempre que eram sacudidas pelo vento. Cheiro suave e uma mistura diversa, mas que no seu conjunto nos envolve e nos eleva, e é indescritível descrevê-los tal a sua diversidade.
Com o meu tacto bem apurado deslizei os dedos sobre as folhas, flores e suas pétalas uma a uma, macias que pareciam seda faziam-me lembrar a pele de bebé de meus filhos e netas, e meus dedos foram-se passeando ao de leve entre esta grande variedade de cores, cheiros e maciez destas divinas plantas com seus caracóis pachorrentos passeando por elas e que tanta alegria e paz me transmitem…
Estava de tal modo abstracta do mundo que dei comigo a comer umas lindas pétalas das rosas de porcelana! E para meu próprio espanto acabei por fazer concorrência aos caracóis, o gosto era fabuloso, adocicado e fresco, que não resisti e acabei por fazer uma degustação às pétalas de outras plantas orvalhadas que estavam no jardim, e na realidade as plantas assim como são lindas à vista, são deliciosas ao paladar.
Parei de comer para ouvir uns zumbidos de abelhas e outros insectos que me estavam a fazer concorrência. Na visita às belas plantas até uns passarinhos de v´~arias cores vieram beber o maravilhoso néctar daquelas flores…
Com todo a beleza que me envolvia e como estávamos numa bela manhã de sábado de uma Primavera já avançada, decidi e fui vestir uns calções velhos, vesti uma blusa leve mas bem usada, umas sapatilhas frescas mas óptimas para caminhar, agarrei no meu mp3, onde tenho alguma da minha música preferida, coloquei um chapéu de palha na cabeça, e lá segui eu pelos montes saboreando e respirando o ar puro e leve da serra, feliz com o que via e sentia em meu redor.
O manto de neblina se elevava do chão provocado pelo calor ainda fraco do sol, era um espectáculo que me transportava ao mundo esfusiante de felicidade, era o meu tempo “ suspenso”.
Maio 2009
Margarida simao

A paz na ilha




Dormi mal, voltas e mais voltas, será que os lençóis têm picos ou urtigas? Não! O defeito era meu.
Na realidade a noite foi difícil, porque a mente estava ocupada com o que me propunha fazer no dia seguinte…
Mas fez-se manhã e às 6.30 horas levantei-me, enfiei umas calças de ganga e um casaco polar, que tenho para o efeito e lá vou eu com a minha companheira à rua, fazermos a nossa caminhada matinal, com a frescura que se fazia sentir naquela manhã de Abril. O sol a medo a romper no horizonte, fazia lembrar-me constantemente a minha azáfama para esse dia...
Eu sabia que se queria tanto ter aquelas conchas, aqueles búzios, as estrelas do mar, e a flora submarina, que tanto me encanta, tanto na cor, tacto e cheiros... teria que me aventurar, lançar ao mar, nadar com calma e saborear cada braçada…A distância era pequena, mas o receio de fazer o trajecto sozinha, deixava-me inquieta.
Ambicionava a conquista daquela ilha, situada mesmo na foz do Tejo, que só as gaivotas utilizam para descansar de suas pescarias e que nos oferece uma paz que não há dinheiro que pague. Para além disso eu poderia com minha busca e persistência, colocar dentro do saco que iria levar para o efeito, as minhas conchas em forma de leque, os meus búzios de vários cores, para que mais tarde pudesse ocupar o meu tempo fazendo meus trabalhos manuais, que tanto prazer me dão.
Mas ainda agora estava a voltar da minha caminhada e já estou a divagar, sobre o que farei... O certo é que estava com a barriga às voltas, e sentia os braços e as pernas a tremelicar… não podia!
Tomei meu banho, com uma minúcia diferente, escolhi uma roupa simples mas cuidada, tanto a interior como a exterior, besuntei-me com um pouco de creme, tive o cuidado de não pôr perfume, porque era desnecessário visto ir para dentro de água, mas tive que pintar os olhos com cuidado, sombra branca. Com o lápis fino delineei o risco - faz mesmo parte de mim este risquinho!
Almocei, e lá segui caminho.
Segui pelo caminho mais rápido, que nos leva para a ilha, o trilho das gaivotas é excelente.
Claro que cheguei à ilha mais cedo do que o que tinha pensado.
O trajecto correu sem incidentes, apesar da barriga ainda andar às voltas...
E, quando cheguei àquele pequeno espaço só meu, das gaivotas e de outros pássaros de que não sei o nome, o céu de um azul transparente e umas nuvens, um pouco mais escuras, de volta e meia apareciam, mas logo desapareciam para me deixarem contemplar o sol, que logo surgia e me aquecia até os ossos...
E o meu espanto que até a dor de barriga desapareceu como que por milagre, as conchas eram lindas com umas cores bem vincadas mas suaves, mas antes de começar a juntá-las, dei uma bela caminhada pela ilha. Há muito tempo que não aparecia por ali vivalma… Corri, rebolei tipo croquete, as corridas na água fizeram-me rir, pois quanto mais corria mais me molhava, mas era delicioso tudo o que me estava a acontecer...
Então agarrei no saco e comecei a fazer a minha busca, encontrei búzios, grandes e pequenos de variadíssimas cores, o mesmo aconteceu com as conchas, aproximei-me das rochas com a água pelos joelhos e apanhei umas lapas bem agarradas às pedras, mas com uns tons lilás e azul fora do comum. E, incrível, até encontrei uns ouriços do mar, redondinhos com seus picos e achatados nos extremos, lindos... ainda me entretive bastante na sua observação, nem os tirei do seu habitat, porque seus picos são frágeis e não quero molestar os habitantes da ilha, não foi essa a minha ideia quando vim até cá...
O sol estava quente mas não em demasia, o calor que sentia era até bem confortável, como que mágico a acariciar-me o corpo, depois de uma azáfama de tanto contentamento que me fez perder a noção do tempo.
Mas ainda fui junto às rochas pela água dentro buscar umas plantinhas cor-de-rosa velho para pôr dentro de meu saco.
Que infantilidade até me veio à ideia de um filme muito badalado na época “ A lagoa azul “ pelo facto de me encontrar só com o céu a servir de tecto e a usufruir de tanta beleza de uma tranquilidade fantástica tudo o que a mãe natureza tem para nos ofertar.
Depois de ter recolhido todos os meus importantes achados, entretive-me a dispô-los na areia e imaginar as belezas que iria conseguir fazer desde colares, pulseiras, sacos de praia, enfim uma infinidade de trabalhos que a imaginação me haveria de ajudar.
Então todos os achados espalhados e vistos com os raios de sol a embelezar o que ficou representado, se transformaram num belo ramo de flores, de várias cores, as conchas de leque a servirem de rosas, os búzios flores silvestres, até as flores aquáticas com os tons salmão, formavam uma harmonia de cores e paz...
Deitei-me junto aquela inexplicável beleza, e sonhei, que o mundo emanava paz e muito, muito amor...


28/04/2009
Guida

segunda-feira, 20 de julho de 2009

A Felicidade de Tom Jobim







Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
Brilha tranquila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor

A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho
Pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
e tudo se acabar na quarta feira

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

A felicidade é como a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar

A minha felicidade está sonhando
Nos olhos da minha namorada
É como esta noite
Passando, passando
Em busca da madrugada
Falem baixo, por favor
Prá que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor

Tristeza não tem fim
Felicidade sim

sábado, 18 de julho de 2009

Poema de Luís Represas - "Feiticeira" Lyrics




De que noite demorada
Ou de que breve manhã
Vieste tu feiticeira
De nuvens deslumbrada

De que sonho feito mar
Ou de que mar não sonhado
Vieste tu feiticeira
Aninhar-te ao meu lado

De que fogo renascido
Ou de que lume apagado
Vieste tu feiticeira
Segredar-me ao ouvido

De que fontes, de que águas
De que chão de que horizonte
De que neves, de que águas
De que sedes de que montes
De que norte, de que lida
De que deserto de morte
Vieste tu feiticeira
Inundar-me de vida...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Pão, marmelada e queijo fresco

Com uma tablete de chocolate de kilo na mão a minha vontade de comer continuava a aumentar e nem me preocupava com as roupas apertadas devido à celulite e afins acumulados…
As férias estavam a decorrer como planeado, termas, calma, paz, campo etc. Mas este bicho da madeira que faz um barulho, rhum, ruhm, rhum irritante, estava a incomodar-me. Tentei acalmar-me e ver no meu intimo o que me estava a acontecer… Era um ainsatisfação de tal modo agressiva, que dei comigo a implicar, com tudo e com todos, daí a satisfação com que o chocolate estava a ser devorado!
Para além de todo o bem estar das termas, estava a precisar de ver e conversar com as pessoas, ouvir suas histórias e poder contar as minhas. Saí do edifício e entre cada pedaço de gulodice que ingeria melhor era a minha disposição.
Dei a volta à vila e sentei-me num jardim com uma sombra deliciosa, sentei-me num dos bancos onde se encontravam duas pessoas.
Boas tardes, disse eu. Boa tarde? Só se for para si, respondeu-me uma das senhoras enquanto a outra me olhava de soslaio, garatujando algo que para mim não foi perceptível, e afastou-se.
Mas que mundo o nosso comentei! Dei as boas tardes de um modo tão simpático que seria para dispor bem, e não criar azedume em ninguém.
A senhora que se mantinha sentada, olhou-me bem nos olhos e perguntou:
- A menina não é daqui pois não? Não, respondi. Sou do Alentejo e vim até cá para fazer uns dias de termas, mas estava com muita curiosidade de conhecer a vila e as pessoas que a habitam, a senhora é de cá? Sou sim menina. Neste local do país as pessoas do sexo feminino são tratadas por menina, independentemente da idade que tiverem. - E continuou, nasci e vivi sempre aqui em Montebelo, só fui ao Porto duas vezes ver um parente que estava mal.
Dou toda a minha atenção a esta anciã, e encetamos uma longa a agradável conversa. Com um aspecto lindo, olhinhos azuis pequenos, mas muito ternos, que sorriam conforme nossa conversa crescia, magrinha mas rija de cajado na mão para amparar o peso dos anos. A senhora Rita - assim é seu nome , começou a contar-me o inicio da formação de sua aldeia.
Sabe menina há muitos, muitos anos, no tempo dos primeiros reis um homem do povo cometeu um crime, nem sei qual, e o castigo dele foi ser posto a viver neste monte sem ajuda de ninguém e obrigado a viver aqui vinte anos.
O homem veio e como era muito trabalhador e organizado, começou a construir a sua casa de pedras e ia agarrando e prendendo o gado que apanhava na serra. No Inverno isto é demasiado frio, mas com a lenha que guardava, caça que apanhava, frutos existentes com abundância, depressa o homem se organizou, para que a sobrevivência lhe não fosse tão penosa.
E o homem conseguiu, foi o primeiro habitante de Montebelo, com o decorrer dos anos o homem já tinha sua vida organizada, e com bens suficientes para que pudesse fazer troca por outros que lhe faziam falta e de que tinha saudades. Então decidiu arriscar e procurar uma aldeia onde pudesse trocar seus haveres por outros, num dos cavalos selvagens que conseguiu agarrar, e que já fazia parte dos seus bens, colocou-lhe uns alforges, feitos de vime, onde colocou: - queijos, caça, frutos e peles e lá seguiu pelos montes de modo a não ser apanhado pela guarda do rei. Claro tão perto estava que foi dar a Espanha. Não se atrapalhou, conseguiu fazer a troca por bens de que muito precisava e voltou feliz para a sua prisão…
Tantas vezes fez a viagem que acabou por se enamorar e o amor era recíproco, por uma bela e trabalhadora mulher da orla espanhola.
E foi este o primeiro casal que fez nascer esta aldeia, disse ela a senhora Rita.
A senhora Rita estava feliz por poder contar possivelmente mais uma vez a sua história da sua aldeia a pessoas de outros lugares, mas a falarem a mesma língua que a sua.
E a encantadora senhora estava tão eufórica pela atenção com que a ouvi, que me diz: menina é já aqui a minha casa tenho que lhe oferecer um pouco de pão feito por mim com marmelada e queijo fresco, e um belo chá de tília que tenho aqui no quintal… É obvio que era impossível dizer não, eu própria queria continuar a ouvir as maravilhosas e sábias palavras da bela senhora.
E lá seguimos, ela amparada no meu braço como se me conhecesse de toda a vida. Eu toda orgulhosa por ir ao lado de uma senhora com todas as letras.
De repente lembrei-me e perguntei! Senhora Rita gosta de chocolate? Claro que sim menina, quem é a mulher que não gosta? Então fazemos uma troca, eu dou-lhe o meu chocolate de kilo, a que já falta umas duzentas gramas e a senhora dá-me um belo lanche de pão com marmelada e queijo fresco? Negocio fechado, vamos lanchar menina.
No dia seguinte e outros que se seguiram minhas tardes eram preenchidas na companhia alegre e serena da bela anfitriã.
Sempre que lá volto, não esqueço de lhe levar o chocolate. Assim como não me esqueço de comer pão com marmelada e queijo fresco, graciosamente oferecido pela menina Rita.

Dia 12 de Julho de 2009

Margarida simão
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terça-feira, 7 de julho de 2009

Dia soalheiro


Neste dia solarengo, espreguicei-me e sorri…
As crianças brincavam,
Os pássaros chilreavam,
As árvores baloiçavam,
As flores abriam-se e floriam,
A relva era regada,
O comboio apitava e chiava,
Borboletas de mil cores fugiam,
Toscanejar e rabujar de velhos
Os cães rosnavam,
As formigas passavam,
Os gatos miavam,
E eu? Eu sorrio. Sorrio para à vida…
Sorrio para o sol, O sol sorri para mim,
As ondas me elevam , O mar me anima,
As algas me dão vida, e eu transmito vida,
Vida vivida, vida amarga, vida salgada,
Vida vivida, vida de amor vida de dádiva,
Vida de flores, de cores, de luz…
Vida de amor.
7 de Julho 2009
Margarida Simão

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sintonia...







Por onde me volto não encontro vida. Só existe ao meu redor árvores de cimento e pior, nem braços têm... Só troncos, estou rodeada de cimento, sem vida sem calor, sem sentimentos.
Mas o meu espírito empreendedor não fica por aqui, e vou continuar a fazer as minhas buscas, tentando encontrar um lugar onde se viva , com todos os bens que a mãe natureza nos possa dar.
Neste emaranhado de prédios todos tipo caixotes, onde mal se vê o céu, e as estrelas apenas ouvimos dizer que existem pois não se vêm nestas cidades de ferro e betão. Até a via láctea que nos servia de guia quando de noite caminhávamos, desapareceu, deixou de ser vista...
É o sinal da modernidade eu sei, mas estou com muita vontade de voltar a sentir, os sabores e cheiros da terra e de poder ver o céu em toda a sua plenitude e sem blocos de cimento.
Saí da cidade e fui até onde minhas pernas me levaram, caminhando sem destino, o ditado do povo diz “ querer é poder... ” E quando dei por mim estava no meio de uma floresta de árvores altíssimas que mal se via a sua copa, de variadíssimas formas e cores. O chão coberto de musgo, plantas rasteiras, e folhas de árvore. Os laivos de sol que conseguiam penetrar através da ramagem e das flores que se encontram por todos os lados davam uma luminosidade, que convidava ao passeio sem horas e saboreando ao pormenor tudo o que me rodeia.
Quedei... e até fiquei com a respiração suspensa tal era a beleza que me rodeava...
Estava numa zona baixa e comecei a ouvir um som idêntico a endecha bastante muito longínqua, e pensei de onde virá esta música um pouco triste?
Decidi imediatamente ir atrás do som. Haviam árvores que tinham os troncos de tal modo grossos que só para as abraçar seriam precisas três ou quatro pessoas de braços bem esticados. Avistei uma manada de cavalos selvagens que passeavam e comiam com suas crias o verdejante repasto que se via por todo o lado.
E o som era cada vez mais audível e menos triste. Os desenhos que se viam formados pelo sol e pelo arvoredo é digno de mestres da pintura. Estava no paraíso imaginei que tudo á minha volta era sonho...
Dei um salto tal foi o susto, naquele silêncio e tão atenta estava ao som da música longínqua, tal foi o salto dado pelo belo coelho pardo que me passou junto ás pernas, creio que também ele se sentiu incomodado com esta intrusa no seu território, e lá continuou com as pernas bem longas e a pular até desaparecer da minha vista.
Parei junto a um valado onde umas silvas verdejantes com milhões de picos, e cheia de deliciosas amoras. Na verdade já me apetecia comer qualquer coisa, e nem pensei duas vezes, larguei a mochila que trazia às costas e lá fui eu à “chinchada” (nome utilizado na minha aldeia para quem vai a terra alheia comer fruta). Apanhei e comi amoras até me apetecer. Fiquei com uma sede de morte, então decidi continuar a caminhada, procurando o que se estava a transformar numa alegre melodia, o som da água que já se ouvia bem mais perto. Oh céus! Não estava a acreditar, eu só podia estar a sonhar, belisquei-me e senti-me acordada. Na verdade o que os meus olhos vêm e o meu coração sente está em sintonia...
Uma maravilhosa cascata com uma água tão transparente e com um sol diferente servindo-lhe de manto, e desse manto maravilhoso saia um belíssimo arco--íris.
As cores, os sons, o crepitar da água e seus salpicos, o verdejante terreno que ladeava , as árvores com seus longos fracos a quererem acariciar toda aquela beleza, deixaram-me por longos instantes muda de espanto, creio mesmo que meu coração deixou de bater e por instantes senti-me levitar. Tudo isto era muito mais do que eu estava à espera quando iniciei minha caminhada.
Os passarinhos continuam a fazer parte desta estupenda orquestra em conjunto com todos os outros instrumentos musicais e suas harmoniosas cores e por momentos veio-me á ideia se este seria o local a que chamam “Eden” e que os historiadores narram o local onde Adão e Eva viveram... Para mim estava a ser o paraíso, pois a harmonia é total.
Mas a minha caminhada tinha de prosseguir, portanto depois de descansar, de ter fotografado com meus olhos e minha mente tudo o que me rodeia, ter bebido a cristalina água com a minha mão em concha, lá segui caminho e apesar de já ter andado horas não me sentia cansada, antes pelo contrário fiquei até com as forças renovadas, pela tranquilidade e beleza do meu achado... Este local irá ficar para sempre na minha mente para futuros passeios e irão servir de terapia para uma mente sã...
Descalcei-me para poder atravessar o riacho em frente ás quedas de água, afim de continuar minha caminhada, e ainda com o deslumbramento que me ia ficar na memória por longo, longo tempo.
Eu que até nem gosto de estar sozinha neste momento estava a adorar tudo o que via e sentia estava tão absorta e nem por um momento me senti só.
Ao fim de um tempo reparei que a floresta se tornava menos densa as árvores de grande porte rareavam, mas a paisagem apesar de estar a mudar, não estava menos bonita, apenas era diferente mas igualmente bela...
Há frente de meus olhos surgia como que por magia um espaço amplo de tons dourados e ondulantes com uma grande mistura de girassóis em flor com a sua corola enorme virada para o sol, e milhares de abelhas bebendo o seu néctar.
Deitei-me de costas aproveitando a palha da aveia, que me servia de cama e fiquei a ver o azul do céu a servir-me de tecto, maravilhosa sensação, até porque já me sentia um pouco cansada. Pensei de seguida, hoje ficarei a dormir na cabana de palha feita possivelmente pelo agricultor dono desta pradaria, e que me despertou a atenção pela sua perfeição, pessoa engenhosa certamente...
Depois de uns momentos de reflexão e descanso, levantei-me e segui em direcção à cabana para fazer o reconhecimento do local e as hipóteses de pernoita, estava a ser uma intrusa mas avancei.
As paredes eram feitas de canas e cobertas com palha, era redonda com cerca de seis metros de diâmetro, o tecto tinha uma engenhosa armação de arames e troncos coberto com grandes folhas, na porta tosca, existia muito bem trabalhado como se fosse a chave de um castelo, com desenhos entrançados, trabalho de muita paciência... Abri e entrei, servia na perfeição, de um lado uma tarimba servia de cama, com uma lanterna de petróleo abastecida, do outro em cima da terra batida um fogão de campismo e os apetrechos próprios para um belo chá ou café, que também havia possivelmente as reservas para emergências.
Retirei da minha mochila as sobras do meu lanche, fiz um chá de alecrim, comi, bebi o chá e fui dormir para a rua. Deitei-me á porta da cabana e comecei a contar as estrelas, coisa que não fazia desde catraia, e tinha sido esse um dos motivos da minha caminhada, ver estrelas... De volta e meia caía uma estrela e eu pedia um desejo como fazia em tempos idos, tanto as contei que adormeci.
Trim, trim, trim, acordei de um salto horas de ir para o trabalho? levantei-me com uma presteza e corri para a casa de banho qual não foi o meu espanto, o meu braço estava marcado com um grande beliscão...
Raios!... tudo não passou de um sonho, um belo sonho a cores...

27 de Maio de 2009
Margarida Simão

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Turma de Informática






Solicitamos com ternura à nossa professora Domitila, que nunca faça Delete desta sua turma, porque estaremos sempre atentos, ao enter , daremos muita atenção ao Caps Lock, o Alt Gr e o control estão na nossa mira, o Num Lock não sairá debaixo de nossos olhos, com muita ternura trataremos do Page Up e Page Downe, nossa atenção estará tambem voltada para o Word, assim como trataremos do Excel e Power Point, todas as teclas ficaram debaixo da nossa mira, e a todas não daremos descanso...
Não daremos trégua aos teclados. O nosso objectivo é trabalho e aperfeiçoamento, em todas as dúvidas que possam surgir a procuraremos.
Mas mesmo com o Print screen, e o Insert( que nem sei a sua utilidade), o @, e $ , € e outras siglas, na nossa mente ficará :
- Um a cara linda, simpática, disponível, atenta, pronta para dar o seu saber sua simpatia e alegria também.
E que a turma tenta com as dificuldades próprias de quem nada sabe, beber o mais possível da sua sabedoria.
Bem haja professora – gostamos muito de si e desejamos-lhe as maiores felicidades do mundo.
A Turma...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Saudade




Saudade, sentimento que se sente na boca do estômago, não dói mas corroi, poderá ser alegre ou triste...
Saudade, aquela que não sabemos explicar, mas sabemos alimentar, se for triste os cantos da boca descaem,os olhos ficam sem brilho, tudo falta até a cor. Se for alegre tudo sorri, olhos, boca, expressão facial,até o nariz, toda a face emana frescura e alegria tudo é cor...
É bom sentir saudade, os vazios existêntes em espaços da nossa vida são preenchidos com as saudades sentidas de quem tem uma vida, vivida e em vida os sente...
São saudades dos pais que partiram, dos irmãos que estão longe, da familia que tem família, dos amigos que passaram, dos outros que ficaram, de um amor que já foi... e tudo isto se resume a um bem estar com melancolia, tentando relembrar o que foi belo um dia.
15 Junho 2009 Guida

sábado, 6 de junho de 2009

Os pilares





Os pilares de uma casa terão de ser sólidos, com boas vigas de ferro, cimento de boa qualidade, areia e muitos outros condimentos com que se fabricam as boas casas...
As construções de antigamente e nas aldeias onde as estradas eram caminhos de cabras, eram feitas a partir da sabedoria dos anciãos.
O conhecimento científico não existia. Então os moldes eram elaborados pelo conhecimento que recebiam dos mais velhos ou então e muitas vezes acontecia serem autodidatas. O material utilizado era o existente na região, barro com palha, blocos de barro feitos com formas de madeira e secos ao sol mais tarde cozidos em fornos.
E este conhecimento era passado dos mais velhos para os mais novos durante imensas gerações.
Nestes moldes a minha casa mais se assemelha a uma cabana sem pilares de sustentação. Não tem vigas de ferro nem materiais designados pela engenharia moderna.
Os materiais utilizados eram os que existiam na encosta escarpada de um terreno que meu antepassado muito trabalhou para o fazer crescer. Ele cresceu sim mas pouco e é de boa qualidade, graças ao tratamento a que foi sujeito e com os métodos antigos trabalhado com muito tacto, sabedoria e amor.
Fui daí que um dos pilares surgiu...
O pilar era e é a chave mestra da tosca cabana, mas na verdade o pilar estava cansado do trabalho e de carregar nas suas costas todo o peso da casa durante décadas.
Assim, decidiu aos poucos que se todos utilizavam o bem estar da tosca cabana, deveriam contribuir um pouco para o melhoramento e conservação do velho pilar.
É muito difícil conseguir algum contributo, e existem utilizadores que nem se movem, nem um leve movimento para mitigar os lamentos do velho pilar... Todos faziam ouvidos moucos, outros aos poucos iam trazendo uma colher de cimento, uns quantos dias depois outro trazia um balde de areia, ainda um outro dia vinha uma viga de ferro para que ele se mantivesse direito.
Ele sabia que os anos passados não voltavam mais, mas isto tudo que recebia de quem nem sequer tinha o dever de o tratar, já lhe dava muita alegria, e porque sentia que era um modo de recompor as suas forças e se manter em boa forma para puder manter a cabana por mais tempo de pé e até bem mais formosa...
Não há dúvida os amigos do Sr. Pilar eram bastantes e todos contribuíam muito para o seu bem estar.
Mas ele não se iludia não, apesar de todos os cuidados e atenções a que era votado teria de ser forte e não se deixar iludir porque o peso dos anos marcava em seu desabono.
Mas pensativo como estava disse para si mesmo:
- Pára bloco de barro és parvo ou quê? Com tanta gente linda á tua volta para que tu não caias, e ainda estás armado em coitadinho?
Nem pensar, olha á tua volta e vê, não estás tão mal assim, existe no mundo sofrimento que nem tu imaginas e comparado contigo és um felizardo...
Cabeça erguida, coração aberto e sorri para o mundo...



10 de Maio de 2009

Margarida Simão

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O meu Pick


Pretendo com este símbolo no meu blogue mostrar a beleza, força, dedicação, entrega. E submeter à aprovação/reprovação de todos os que o vêm, aceitando críticas. Também porque é um animal de minha eleição.Os seus olhos me transmitem ternura e olhando-o nos olhos vejo a transparência a força e a doçura do seu interior.
Guida

sexta-feira, 15 de maio de 2009

A minha pedra
















Bati com a porta e saí.
Irritada como estava com esta vida que não é a minha vida. Vida parada, estática, monótona, sem afazeres, sem objectivos, e como pode alguém viver assim?
Meti-me no carro e andei sem destino durante nem sei quanto tempo.
Até que sem me aperceber e com este turbilhão de ideias a moerem-me o juízo.
Acabei por parar junto ao mar e naquela pedra tão especial que costuma ouvir meus queixumes me sentei.
Era meia tarde, os meus sentimentos estão muito revoltos, mas dei comigo a pensar nesta caixa com tanto conteúdo que é nosso cérebro, tudo muito bem arrumado ou muito desarrumado por vezes, e com algumas caixas a quererem sair do armário e sacudir o pó. A maior parte delas não são boas.
Aquelas que dizem respeito ao meu ser tento fazer separação de sentidos , mas mau grado meu revolto-me contra mim.
Será que na vida só a mulher tem deveres? E as regalias quem as tem?
Ainda bastante irritada por estas perguntas a mim mesma, e sem achar as respostas que toda a vida tenho procurado dar a mim própria.
O calor era bastante, o sol teimou em me beijar a tarde toda e a minha cara estava já bem escaldada, seria do sol ou do vulcão existente dentro de mim e que estava em efervescência tal era a irritação que me provocava a vida.
A retrospectiva que fazia não era boa o que sentia era revolta por ter sido tolerante e benévola toda a minha existência e que tinha lucrado? Nada!... Bem sei que quando as doenças aparecem não se fazem anunciar, mas que raio, à que lutar contra ela, a vida é feita de luta, mas os homens acomodam-se e é por esse comodismo que estou assim…
Mas este sol continua a fustigar-me a cara como que a dar-me força, como que a renovar-me energias, e vem-me à ideia aquele ditado popular “ Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé”.
Mas com tudo isto penso que também não existe só lamentações, estas são só em espaços temporais, caso contrário ninguém aguentava.
A vida tem de ser partilhada no bom e no mau. E como nunca houve partilha eu sempre carreguei o fardo, acho que isso é que me deixa tipo vulcão e furibunda…
O sol está quase a roçar a linha do horizonte, e o meu corpo está mole, devido ao calor e ao cansaço, valeu-me uma brisa suave que começou a roçar-me a cara e os cabelos…
De repente como se tivesse sido picada por um insecto ou uma descarga eléctrica, despi a roupa fiquei em fato de banho, e nun impulso atirei-me à água e nadei com braçadas rápidas em direcção ao por do sol. A sensação é divinal deixei-me ficar a saborear a leveza do mar e o seu sussurrar nos meus ouvidos como que a querer tranquilizar-me das minhas angústias. Assim permaneci muito tempo, ora boiando, ora mergulhando com uma sensação de paz em meu espírito.
Os peixitos vieram ao meu encontro, alguns mesmo roçando as minhas pernas não sei se as beijando se dizendo que faz aqui esta intrusa?
Estava deliciada e quando me apercebi do tempo que estive a namorar com o mar nadando para lá e esbracejando para cá, estava já a anoitecer, beijei os peixes beijei a água e saí para a minha pedra conselheira. E ele me disse baixinho:
- És tolerante e paciente amiga, mas pára! Olha para os lados e para a frente, a vida tem muita beleza ainda para a aproveitares, não desprezes o que ultrapassaste na vida, mas ainda tens muito mais para viver.
Vai à luta mulher…
As estrelas já estavam a cintilar no céu e a sua luminosidade estava a indicar-me o caminho.
A paz que senti sentada naquela pedra, e a que senti da envolvência que senti dentro de água , a sintonia com os peixes, fez-me olhar para uma realidade, o viver…
E decidi nesse momento, sorrir para a beleza da vida, sorrir para o bom que ela tem para nos dar, embora carregando com seus fardos…
E assim deixei meu recanto, onde revi mais uma vez um pouco do meu interior, e gostei do que estava a sentir, uma abertura onde pudesse entrar uma réstia de um sol diferente que me aquecesse a alma…

07 de Abril de 2009

Margarida Simão

domingo, 10 de maio de 2009

A Carneirinha





Sou deste signo, teimosa, alegre, amiga, tolerante, bem disposta.
Quero um mundo sem guerras, quero um mundo com amor

sábado, 9 de maio de 2009

A minha Ilha


Foto de:Clak Little.


Local onde abundam cores maravilhosas da natureza, onde o sonho é permitido, onde a calma nos invade, onde o sol tem outra luz, onde os sentidos estão despertos aos sons,onde os cheiros são mais suaves,onde o nosso sentir tem outra força...
Guida

sábado, 2 de maio de 2009

Cerejeira


Caminhos da vida


Sentado debaixo de uma cerejeira, numa noite de Agosto em que o luar era muito reluzente, sentindo o cheiro da terra e das árvores, interrogava-me quando voltaria novamente a ter aquela sensação de paz e a sentir aqueles cheiros tão familiares e agradáveis e com os caga-lume (pirilampos) andando à minha volta como que iluminando-me os pensamentos, ou a despedirem-se de mim. Não sei mas acho que até eles pressentiam o meu nervosismo, a minha tristeza, e ansiedade, pela nova vida que vem a caminho. A partida para a grande cidade de Lisboa está eminente.
Ontem como hoje, perdia-me em cogitações:
Terminei a 4ª classe e a família precisa de ajuda para as despesas da casa mais uns escudos fazem sempre jeito.
Assim, já fiz as minhas despedidas aos meus tios e tias já as fiz aos poucos... A da família da casa, meus pais e irmãos, irão comigo até à aldeia próxima que dista cerca de 3 km local onda passa a camioneta, que me conduzirá ao novo destino.
Com os gaiatos a saltitar, a minha partida nem irá dar motivo a choros, pois isso me deixar-me-ia bastante triste. Já chega, o afastamento, de todos os que mais quero, e o aperto que sinto no meu peito.
O meu pai na noite que antecedeu minha partida e quando lhe beijei a mão, pedindo sua bênção, (costume usual na minha aldeia,como sinal de respeito para com os mais velhos, e penso que provém da religião católica. É um hábito que nos é imposto desde a nascença), tentou-me transmitir como me deveria comportar, o respeito que deveria ter para com os mais velhos, e deu-me todos os conselhos e transmitiu-me todos os valores dignos de um homem de bem, mas eu senti foi o seu sofrimento por ver que seu filho teria que abandonar a casa em busca de melhor vida para todos.
Sou novo, eu sei, e tudo irá ser ultrapassado, Vou ver se consigo melhorar as condições de vida, pois na aldeia nada existe.
A noite alta continua , e eu aqui sentado, a terra cheirando a quente deste sol de Verão, os pirilampos vindo ao meu encontro, como que a quererem despertar-me deste meu sonhar acordado. Sinto o meu peito bastante contraído pelas saudades que sei vou sentir, mas como mais velho de quatro filhos irei, e lutarei, para melhorar as condições de nossa vida.
Mas, as imagens teimam em surgir à minha mente. Vem aquele episódio em que minha irmã a segunda dos quatro filhos, andava na brincadeira na cerâmica de meu avô. Lembro-me que existiam dois tanques quadrados aí com quatro metros de lado com cerca de 80 cm de altura, onde os empregados de meu avô, o Natalino e o Moura Guedes, amassavam o barro com uns ferros idênticos a catanas, mas mais grossos onde, depois de trabalhado, o barro iria para os moldes de madeira, para manualmente, se fazerem as telhas e os tijolos.
Ora no Inverno como não se podia fazer esse trabalho porque não havia sol suficiente para secar os materiais, os tanques ficavam cheios da água da chuva. Nós, miúdos endiabrados só íamos para onde não devíamos!...
A minha mana com três anos, e assim como ainda hoje sempre gostou de brincar, caiu dentro de um dos tanques. A água estava geladíssima. Ela esbracejava e quanto mais o fazia mais se afundava, para ela o tanque era enorme. Todos os miúdos gritaram por ajuda, mas a família estava um pouco longe, não ouvia! Os garotos correram a chamar gente, mas, então o meu primo mais velho que ela, com cerca de seis anos e num acto heróico e sem pensar no perigo, atirou-se à agua gelada e agarrou a garota com grande esforço e com a ajuda dos demais garotos conseguiu tira-la. Logo de seguida chegaram as minhas tias e a minha avó, que a viraram e fizeram com que deitasse fora toda a água engolida, a algazarra foi de tal modo que todo o povo da aldeia veio ver o que se passava.
A minha irmã ainda levou umas palmadas por não saber estar quieta e ficou de castigo. Os meus pais não ganharam para o susto.
E nesta noite, que antecede minha partida, tudo me vem à cabeça, será o medo do desconhecido?
A pobreza é muita, e um miúdo como eu fazer a escola tem de palmilhar 4km para um lado e outros tantos para voltar para casa.
A aldeia está longe de tudo, os agasalhos são poucos e pobres não têm dinheiro para irem para uma Escola Industrial ou Liceu.
Também me vem há ideia um Inverno em que meu pai matou o porco para salgar - não havia outro modo de guardar as carnes, e quando se mata o porco faz-se comida para toda a família. Eu era um garoto como tantos outros, todo cheio de genica e curiosidade, empoleirei-me num pilar da casa que não era rebuçada. Pus um pau num buraco de tijolo para poder ver tudo, claro que meia dúzia de tijolos me caíram em cima da cabeça.
O meu pai, sem dinheiro nem transporte, teve que chamar um táxi (coisa de ricos), o único numa zona de 30 km , para me levar ao hospital, enquanto a minha mãe me levava ao colo na direcção, de onde o carro haveria de chegar. Tinham telefonado do único telefone da aldeia. O meu pai seguiu à frente para pedir dinheiro emprestado para me poder tratar devidamente.
Ainda a noite é uma criança, como costumo ouvir os grandes dizerem, e eu aqui sem dormir, com estas coisas todas a virem à minha memória.
Fui operado à cabeça. Estive imenso tempo no hospital. Nem sei quanto! Perdi a noção, sofri várias intervenções cirúrgicas, mas graças a meus pais fiquei tudo se restabeleceu.
Hoje recordo o garoto humilde a caminho da cidade, que me esperaria?
Trabalho? Mas o trabalho nunca me assustou, assustam-me sim as pessoas mas o que for se verá.
Já perto da madrugada fui para a cama, mas pouco descansei. A emoção e o medo do desconhecido apavorava-me.
E assim, ainda o sol não tinha nascido, lá parti para a aldeia que existe no sopé da colina e que dista cerca de 3 km para apanhar o transporte para a cidade, apesar da distância da cidade ser cerca de 60 km a camioneta leva três a quatro horas a chegar a Lisboa.
A paisagem continua linda e, na altura tentava reter na memória o deslumbramento do raiar da aurora, a extensão que a nossa vista abrange até ao horizonte, é de dezenas de kilómetros, até as torres do convento de Mafra se avistam, e engraçado, antigamente não havia relógios como hoje e meu pai dizia muitas vezes as horas pelo sol, e para ele quando era meio dia, o sol estava entre as duas torres do convento de Mafra, e este dista da minha casa cerca de 30 Km.
Cheguei bastante cansado, não sei se pelos nervos se pelo receio do desconhecido.
E, meu Deus, o que me esperava uma mercearia onde o trabalho era carregar os cestos de compras para as senhoras! Mas não era pelo elevador! Era pelas escadas de serviço.
Dormia num vão de escada da loja e, à noite, a solidão era mais que muita. Valia-me os domingos porque ia para casa de minhas tias e, aí sim, tinha os miminhos todos, era adorado por todas elas. Meus pais entretanto sofriam com a minha ausência.
Continuei lutando e quis a vida que fosse fazer a tropa a Timor, local onde adorei estar. Muito pobre parecido com a minha aldeia, mas valeu pelos conhecimentos adquiridos.
A minha mana que se ia afogando, costuma dizer, que sou seu ídolo, o seu confidente, o seu irmão do coração, o seu amigo, um excelente filho, mas além de tudo um excelente ser humano.
E ainda hoje que já lá vão sessenta anos, a admiração que tem por mim creio que não tem limite.
Claro que voltei da tropa e com o que fui aprendendo ao longo da vida, minha vida está mais suave. Sou muito humano e tolerante, mas jamais esquecerei a luta e aprendizagem de vida que tive de fazer para chegar aqui.
Hoje estou com quase sessenta e quatro anos estou sentado debaixo da mesma árvore, pensando no que falhou na minha vida…
As separações... Os que partiram... , e não sei se sou mais feliz do que quando tinha a idade em que os dos caga-lume me beijavam a face.
Mais rico sou, pois minha filha enche-me a alma e com ela perto o meu coração brilha de amor.
28 de Fevereiro de 2009
Guida

domingo, 26 de abril de 2009

Porque desvia o Olhar?




“… Porque tenho medo das alturas. Tenho medo de cair para dentro de ti de teu olhar!
Há nos teus olhos castanhos certos desenhos que me lembram , montanha, cordilheiras vistas do alto, em miniatura!
Então eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e salvar-me do amor.
Mas, hoje não encontraram pedras.
Encontraram flor.
E eu amarrei-me ás pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos dentro de teus olhos… “
(Autora: Rita Apoena)

terça-feira, 21 de abril de 2009

ter cão


A minha companheira de há catorze anos, Talula Maria. É uma borrega, pulguenta, doce, ternurenta e bem cheirosa...
Adora crianças especialmente a Bekas e a Tyta.
Gulosa e barriguda, a idade não perdoa, mas continua linda de morrer com a sua meiguice e companheirismo.

segunda-feira, 20 de abril de 2009


(Imagem de: Joana Vasconcelos?)

TU

Tu cegas-me;
Tu maravilhas-me;
tu confundes-me;
tu enlouqueces-me;
tu baralhas-me;
tu envergonhas-me;
tu orgulhas-me;
tu envelheces-me;
tu rejuvenesces-me;
tu amas-me;
tu odeias-me
tu elogias-me;
tu enriqueces-me;
tu apaixonas-me;
tu enalteces-me;
tu, tu, tu, tu...

sexta-feira, 13 de março de 2009

Pesadelo

Andava vagueando pelas salas num passo bem lento porque para apreciar todas as belezas expostas, só mesmo com muito tempo. O edifício era bem alto, tipo palacete com paredes grossas e janelas em ogiva. O dia estava muito claro, o sol era muito luminoso… Como sempre, os meus filhos acompanhavam-me nestes passeios e visitas às exposições, que tantas vezes fazíamos…
A verdade é que, de um momento para o outro, deu-me a sensação de ter ficado só. Olhei em redor não via vivalma. De um momento para outro desapareceu-me o meu filho mais velho.
Tentei chamar, gritar, mas a voz estava presa. Nem um ruído saía. Que desespero o meu! Transpirava! O esforço que fazia para me mover e gritar era em vão. Nem uma sílaba saía – estou louca, pensei. Não estou neste local!
Mas como que por assombro meu, vi um vulto aparecer a uma das muitas portas, e eu sem conseguir falar. O vulto, que era nada mais nada menos que um amigo de meu filho diz-me de um modo cruel, teu filho morreu. Encontra-se no velório da igreja para ser cremado.
Fiquei louca! Corri para o rapaz e bati-lhe tanto, que pensei, também o mato! Até que alguém me arrancou o rapaz das mãos.
De modo mais racional, pensei eu, e comentei: meu filho não vai ser cremado sem ser autopsiado. Primeiro exijo saber a causa de sua morte…
Ouvi uma voz desconhecida que disse, não tens o direito de exigir nada. Teu filho já fez dezoito anos e pediu para que assim fosse!
Acordei… Estava louca, impávida, de olhos arregalados, as lágrimas caindo e o pranto era de tal modo que nem me conseguia mexer… com medo de ser verdade.
Foi um pesadelo. Um pesadelo que se repete muitas vezes em meus sonhos!
E o medo de perder quem tem uma vida para viver enlouquece-me!
Pela ordem normal da vida eles é que terão um dia de fazer o luto por mim. Sobrevivendo-me.

05 Março de 2009
Lembranças


Era esguia, de uma beleza invulgar, cabelo preto comprido, preso por umas tranças de lado, toda ela sorria.
Era a terceira dos quatro filhos. Parecia uma gazela, suas pernas ágeis tudo trepava. E por incrível que pareça a sua maior alegria era estar bem debaixo das saias da mãe…Apesar das traquinices, no seio da família é que se sentia bem.
Mas, estava prestes a acabar…
Haviam uns primos do pai, que viviam mais afastados daquela aldeia, e que eram um pouco abastados, Como lhes dava um certo prestigio terem serviçais em casa, a pobre garota foi forçada a ir trabalhar a troco de meia dúzia de tostões, comida e dormida.
Isso era um alívio para os pais, havia mais uns cobres no fim do mês e menos uma boca a comer.
A pobre miúda com dez ou onze anos, estava angustiada, por se ver em casa estranha e sem os pais e irmãos, a todo o momento chorava, as noites eram tormentosas, encontrava-se em casa estranha e para maior infelicidade a petiz era constantemente molestada pelas primas “finas” filhas do patrão, ora lhe chamavam galga de forma pejorativa, pela sua elegância e beleza, ora juízo de passarinho, como se a pobre garota não soubesse pensar.
Ela que na sua aldeia era o ídolo da criançada, todos, todos a seguiam.
Mas como não bastasse não viam a sua idade e tudo a mandavam fazer: lavar a roupa no tanque de manhã, que para o fazer a menina tinha de partir a camada de gelo que tinha a água, as lágrimas corriam, e os soluços tomavam conta dela, e as “ finas” sempre a massacrar.
Por um lado os pais estavam descansados a filha estava a trabalhar e o resto não importava, era obrigação dela, visto já ter feito todos os estudos ( a 4ª classe).
Mas o coração da pequena não aguentava o modo como era tratada e as saudades de casa faziam-na sofrer demais.
Um dos dias que foi à fonte buscar água, pensou, porque não agora? E se bem o pensou melhor o fez. Largou tudo e sem conhecer o caminho meteu pés ao caminho atravessando terrenos, montes fazendas, sítios que nem sequer sabia existirem, mas o seu sentido de orientação pelo sol levou-a a bom porto.
Claro que ficou com um medo de morte pelo que lhe iria acontecer, já sabia que a violência física iria ser aplicada em si, ser tão frágil, franzina e carente, que só fugia para ter amor.
Como tinha medo de apanhar tareia, foi ter com a avó materna, que a amparou e a escondeu até que pôde.
Ora no final da tarde, e como a menina não havia voltado da fonte, os primos telefonaram para o único telefone existente na aldeia, dando a conhecer que a menina havia fugido. É obvio que os pais apesar de tudo ficaram preocupados, e a mãe correu pela aldeia para ver onde ela estava. Quando se apercebeu de que a avó a tinha escondido, ficou possessa, e gritou: saia da frente da miúda senão levam as duas…
A avó não teve remédio e a garota lá foi de rastos a chorar e a levar pancadaria, como não foi suficiente e a mãe ainda não satisfeita, fez as queixas ao pai, que se encontrava já bastante atestado de vinho.
E a melhor maneira que lhe pareceu para a castigar, como se não tivesse já sido castigada, foi desancá-la com o cinto, e tanto bateu que a fivela abriu uma brecha na cabeça da criança e o sangue jorrou por todos os lados, satisfeitos com a acção pois o bater era comum neste casal.
A criança ficou bem mal, estive cerca de dez dias de cama tal foi o maltrato.
Eu sei que “ casa que não tem pão todos ralham e ninguém tem razão “ mas isso não deveria ser motivo para maltratar uma criança linda e ternurenta que só corria para os pais em busca de amor…
O tempo passou e a bela garota agora com idade adulta, já se encontrava em Lisboa a trabalhar. Os problemas continuaram a ser imensos para certas mentalidades.
A garota, agora mulher tinha uma figura linda, era alta, bem elegante, cintura fina, olhos escuros e vivos, boca bem desenhada, e claro bem namoradeira… Os pretendentes pareciam abelhas em volta das flores.
E aí os problemas surgiam de novo, sempre que os pais tinham uma informação desta ou daquela, porque a inveja roía… A garota bonita era malhada com o que houvesse à mão.
Até que um dia e para alivio dos pais, a menina arranjou um namorado na América, era ideal para seus problemas terminarem e não haver mais falatório a respeito da mesma.
O noivo veio a Portugal casar. E a pobre garota que só queria estar com os pais, viu-se de malita na mão com meia dúzia de peças de roupa e lá seguiu vida nova.
Para os pais foi um alívio, mas o sofrimento da garota não ficava por aí…
Hoje já com idade avançada, mãe e avó, doente a cansada, ainda recorda bem demais, a falta que lhe fez a casa dos pais, o que mais queria era um sonho, o sonho de ser amada e bem tratada por quem lhe deu a vida.
Ser pobre é o quê? Não ter dinheiro! Sim , será?
Mas pobre de coração o que será? Rejeitar e tratar mal quem saiu de dentro de si?
Eu acho que é maldade.
Mas tudo passa na vida e hoje o que a garota mais quer , é que não façam a ninguém aquilo que fizeram com ela.

03 de Março de 2009
Margarida

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Balalayka


Instrumento musical,típico dos países do Leste, e que me é muito querido pelas minhas recordações da infância.

domingo, 18 de janeiro de 2009

A Flor da honestidade


Conta-se que por volta do ano 250 A.C. , na China antiga, um príncipe da região norte do país estava ás vésperas de ser coroado Imperador mas, de acordo com a Lei ele deveria casar.
Sabendo disso ele resolveu fazer uma disputa entre as moças da corte, ou quem quer que se achasse digna de sua proposta.
No dia seguinte o príncipe anunciou que receberia numa celebração especial todas as pretendentes e lançaria um desafio.
Uma velha senhora serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leva tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe.
Ao chegar a casa relatou o facto à jovem e admirou-se ao saber que ela pretendia ir, à celebração e perguntou incrédula:
_ Minha filha que farás tu lá? Estarão presentes as mais belas e ricas moças da corte. Tira essa ideia insensata da cabeça, eu sei que tu deves estar a sofrer mas não tornes o sofrimento uma loucura.
E, a filha respondeu: Não querida mãe, não estou a sofrer e muito menos louca, eu sei que jamais poderei ser a escolhida… mas é a minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, e, isso já me torna feliz.
À noite a jovem chega ao palácio. Lá estavam de facto as mais belas raparigas, com as mais belas roupas, e as mais belas jóias, e também as mais determinadas intenções .
Então finalmente o príncipe anunciou o desafio:
- Darei a cada uma de vós uma semente. Aquela que daqui a seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida para minha esposa, e futura imperatriz da China.
A proposta do príncipe não fugiu as profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de “cultivar” algo.
O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes de jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava de se preocupar com o resultado.
Passaram-se três meses e nada surgiu.
A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido.
Dia após dia, por fim os seis meses haviam passado, e nada havia nascido da sua semente.
Consciente do seu esforço e dedicação a jovem comunicou a sua mãe que, independentemente das circunstâncias retornaria ao palácio na data e hora combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe.
Na hora marcada lá estava, com o seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela que a outra das mais variadas formas e cores.
Ela estava admirada nunca tinha presenciado tão bela cena.
Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das pretendentes, com muito cuidado e atenção.
Após passar por todas uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura esposa.
As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reacções. Ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado.
Então, calmamente o príncipe esclareceu:
- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz “ A Flor da Honestidade”.
Pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.
Se para vencer estiver em jogo a sua honestidade… Perca.
(Desconheço o autor)

domingo, 11 de janeiro de 2009

EXISTÊNCIA

Se amar é vida…
Porque a perco dia a dia?

Eu amo no extremo
Tudo o que faço é com amor;
Acarinho a sedução do ser;
Acaricio num amplexo de doçura,

Sussurro poemas quando eu amo
Dou amor…sem ver
Ela diz não…fico sereno,
Aceito sorrindo a dor,

Revolto-me…
Porque estou acabando,
Cabelo branqueando,
Rugas rasgando.

Se foi tanto o amor que dei,
Porque vou findar?

O tempo passou e eu amei
E eu sei… Não posso lutar.

Porque ao soletrar,
O verbo amar…
É dar tudo…
Até a vida…

“ autor António Zumaia “


M :
- De Mãe, Mulher, e Maria


Ora bem o “ M “ de mulher na realidade é tão abrangente como todos os outros, mas vamos ver neste texto e como se aproxima o dia Internacional da Mulher ( 8 de Março), as coisas positivas, que estes três “ Ms “ , têm para dar.
Ora bem, o papel da mãe na vida de seus filhos é um dos factores mais positivos e belos na vida dos mesmos, desde a data da sua concepção, até ao nascimento continuando pela vida fora, ela dá AMOR, AMOR E MAIS AMOR…
A mãe sente-se orgulhosa do seu volume a barriga crescendo e o corpo ficando disforme mas lindo, ela está e sente-se magnífica e linda por transportar em si uma nova vida para o mundo (embora esse mundo por vezes não corresponda aquilo que a mãe deseje para seu menino), ele vem ao Mundo e a alegria é sempre mais e mais, e apesar de todos os trabalhos, canseiras e noites mal dormidas, passam-se os anos e a mãe desde o seu nascimento deixou de ter horas para ela, todo o tempo foi dedicado com Amor ao bem-estar da família, muitas vezes tirou de sua boca para que o melhor fosse para seus filhos e sempre com um sorriso de boa disposição e alegria.
E, assim continuou até que o mesmo seguiu o seu rumo, encontrou o amor da sua vida e saiu de casa, e como existe sempre uma repetição da história, mais uma família se constituiu.
Ora bem, este 1º papel de “ M “ Mãe, também foi ao mesmo tempo Mãe e Mulher, ela cuidou do companheiro, limpou, organizou a casa, fez as compras, carregou, levou para casa as mágoas ou alegrias do trabalho, que poderia ou não correr bem, foi à Escola levar e buscar os filhos, vai às reuniões da Escola, leva os meninos à ginástica, faz as refeições, lava a roupa, engoma, prega um botão e tudo o resto que está descosido, limpa o pó e um sem número de coisas invisíveis aos olhos do homem comum.
Na realidade estes factores onde se juntam o 1º “ M “ de Mãe e o 2º “ M “ de Mulher estão incluídos o 3º “ M “ de Maria e Maria porquê?
Maria porque a todos os trabalhos efectuados por nós mulheres associamos sempre o papel de “ Maria” para trabalhar, para dar, para exigir, sempre e sempre, esquecendo o muito Amor que a Mãe, Mulher, Maria sempre deu a todos os seus e também a todos os que estão em seu redor sem nada cobrar em troca, sendo tratada na maior parte das vezes como uma máquina, exigindo amor e trabalho, e sem haver o cuidado de lhe darem os cuidados e o amor de que ela necessita e merece…
Mas como a Mãe, Mulher, Maria continua sendo uma lutadoura diariamente vai adquirindo os direitos um a um, que lhe são devidos, pelo muito Amor, Ternura, Compreensão, Tolerância, Conhecimentos e muito mais que deu de si a vida inteira.

2007 – Janeiro 21
Margarida Simão

sábado, 10 de janeiro de 2009

A vida

A VIDA


Já escondi um amor com medo de perdê-lo,
Já perdi um amor por escondê-lo…
Já segurei na mão de alguém por estar com medo,
Já tive medo ao ponto de não sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava da minha vida,
Já me arrependi por isso…
Já passei noites chorando até pegar no sono,
Já fui dormir tão feliz,
Ao ponto de nem conseguir fechar os olhos…
Já acreditei em amores-perfeitos,
Já descobri que eles não existem…
Já amei pessoas que me decepcionaram,
Já decepcionei pessoas que me amaram…
Já passei horas na frente do espelho, tentando descobrir quem sou,
Já tive tanta certeza de mim ao ponto de querer desaparecer…
Já menti e me arrependi depois,
Já falei verdade e também me arrependi…
Já fingi não dar importância a pessoas que amava,
Para mais tarde chorar quieta no meu canto…
Já sorri chorando lágrimas de tristeza,
Já chorei de tanto rir…
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena,
Já acreditei em pessoas que não valia a pena,
Já deixei de acreditar nas pessoas que realmente valiam…
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse…
Já gritei quando deveria calar,
Já gritei quando deveria gritar…
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar a uns,
Outras vezes falei o que não pensava para magoar outros…
Já fingi ser o que não sou para agradar a uns,
Já fingi ser o que não sou para desagradar a outros…
Já contei piadas e mais piadas sem graça,
Apenas para ver um amigo feliz…
Já inventei histórias de final feliz para dar esperança a quem precisava…
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade…
Já tive medo do escuro,
Hoje no escuro “ me acho… me agacho… fico ali… “
Já cai inúmeras vezes achando que não me ia reerguer,
Já me reergui inúmeras vezes, achando que não caia mais…
Já liguei para quem não queria,
Apenas para não ligar para quem realmente queria…
Já corri atrás de um carro,
Por ele levar embora alguém que eu amava…
Já chamei pela minha mãe no meio da noite,
Fugindo de um pesadelo, mas ela não apareceu,
E foi um pesadelo maior ainda…
Já chamei pessoas próximas de “ amigo “
Algumas pessoas não precisei de chamar nada,
E sempre foram e serão especiais para mim…
Não me dêem formulas certas,
Porque eu não espero acertar sempre…
Não me mostrem o que esperam de mim,
Porque vou seguir meu coração!...
Não me façam ser o que eu não sou,
Não me convidem a ser igual,
Porque sinceramente sou diferente!...
Não sei amar pela metade,
Não sei viver mentiras,
Não sei voar com os pés no chão…
Sou sempre eu mesma,
Mas certamente não serei a mesma para sempre…

Guida

Minhas mãos

AS MÃOS


AS MÃOS APANHAM SEMPRE OS CACOS… E, SEGUEM SEMPRE EM FRENTE





Ora muito bem vamos então às mãos, descrevê-las é bastante difícil pois elas são multifacetadas, elas podem ser calejadas, macias bem tratadas, são para mim comparadas com o coração…
Com as nossas mãos sentimos o coração:
-Sentimos o que os olhos vêm;
- Sentimos o que o nosso olfacto nos transmite;
- Sentimos o que o nosso paladar nos diz;
- Sentimos o que nossos ouvidos ouvem;
- Sentimos o tacto de todas as coisas, sentimos o Amor, fazemos carinho, dizemos adeus, e tantas outras coisas.

É incrível como nem nos apercebemos do bem super precioso que são as nossas mãos. Foi com elas que comecei a fazer gracinhas quando nasci, mais tarde as mesmas demonstraram amor a quem me rodeava, com as mesmas aprendi a trabalhar e seguindo o rumo da vida, também elas aprenderam a escrever, a descobrir o meu corpo e claro sempre com o decorrer do tempo, também através de meu coração, as minhas mãos me mostraram a maior das sensações da minha vida, as minhas mãos pegavam ao colo o meu primeiro filho, e ainda hoje me recordo bem dessa sensação e já lá vão 40 anos, um ser minúsculo e lindo, doce e macio, minhas mãos percorreram seu corpo vendo com meus dedos se tudo estava bem, com meu bebé.
Claro que mais tarde voltei a sentir o mesmo com o nascimento do meu segundo filho, creio terem sido os momentos que minhas mãos e meus dedos mais felizes se sentiram em toda a minha vida.
No entanto analisando neste momento, estes dois pedaços de carne, com uns ossos e uma pele já gastas e uns tendões a segurar, e sentem-se como nunca eu pensei ser possível que conseguissem trabalhar tanto e com orgulho pelo que fazem, na sua vida o seu objectivo 1º é dar, é ser útil, elas se estendem para os outros nunca ficam encolhidas seja qual for a situação.
Pois bem as minhas mãos, para além de saberem acariciar e de dar AMOR, elas sabem falar, pois eu falo através delas, sabem cozinhar, limpar, fazer trabalhos manuais, servem também para repreender, para dar ordens. Amigos, tanto, tanto que elas fazem, dar banho às netas e à nossa cadelinha “ Talula”, que faz parte da família, arrumar tudo o que em casa é deixado fora do sítio, e o que não é deixado tem que ser limpo, elas o fazem.
Mas também servem para dar aquele abraço a um amigo que tanto necessita de umas festas na cabeça e nas costas, claro que as mesmas por vezes também se zangam comigo pelo mau trato que lhes dou, pois como são fortes exijo sempre demais delas, mas eu sei que elas me desculpam, pois como digo muitas vezes “ O legado que me foi deixado por herança por meus pais” foram duas mãos e dois braços fortes para trabalhar, pois nunca se recusaram a nada, e ainda hoje com tanto trabalho que toda a vida tiveram, elas sentem-se felizes por poderem ser úteis a todos os que as rodeiam.
E, assim as minhas mãos são lindas, fortes e saudáveis, agradeço às minhas mãos tudo o que de bom me deram a conhecer e a sentir na vida, (pois coisas tristes não são para mim), olho para elas e fico grata por tudo o que têm feito e claro não as vou deixar descansar ainda, temos muitas coisas boas na vida, que temos que fazer em conjunto, desde ajudar os filhos e as netas, até aos meus idosos da Santa Casa da Misericórdia onde faço o meu voluntariado, aos meus meninos de rua da Costa da Caparica onde as minhas mãos vão também ajudar voluntariamente para que tenham uma vida mais saudável e felizes, os trabalhos na minha casa também, mas tudo o que fazemos juntas elas sabem que é sempre por uma boa causa, para que todos sejam mais felizes neste mundo.
OBRIGADO MINHAS MÃOS.


Margarida Simão

CÃO D'ÁGUA PORTUGUÊS

TER CÃO

Talula,
Tu és um saco de pulgas.
Tu nunca tiveste um minuto de trabalho.
Tu lambes a cara de desconhecidos com a única intenção de me envergonhar.
Por vezes tresandas como uma manta velha, mal cheirosa e húmida.
Não és apenas daltónica, tu nem sequer sabes distinguir uma carpete de um sofá.
Tu finges que achas a palavras “ Não “ incompreensível, tu insistes em partilhar o teu desafinado latido com a vizinhança inteira.
Por alguma razão tens medo de estátuas, as estátuas põe-te louca.
Tu não tens vergonha nenhuma, tu és a coisa mais preguiçosa, suja, teimosa, que conheci em toda a minha vida.
Mas eu acho que és perfeita.
Margarida Simão

Quero

Escrito em terça 25Fevereiro 2008
“Nem a tristeza, nem a desilusão,
Nem a incerteza, nem a solidão... ... Nada me impedirá de sorrir...
Nem o medo, nem a depressão, Por mais que sofra meu coração...
Nada me impedirá de sonhar...
Nem o desespero nem a descrença, Muito menos o ódio ou alguma ofensa...
Nada me impedirá de viver...
Mesmo errando e aprendendo, Tudo me será favorável... Para que eu possa sempre evoluir, Preservar, servir, cantar, agradecer, Perdoar, recomeçar...
Quero viver o dia de hoje, Como se fosse o primeiro...
Como se fosse o último, Como se fosse o único...
Quero viver o momento de agora, Como se ainda fosse cedo, Como se nunca fosse tarde... Quero manter o optimismo, Conservar o equilíbrio e fortalecer A minha esperança... Quero recompor minhas energias Para prosperar na minha missão e viver alegremente todos os dias...
Quero caminhar na certeza de chegar...
Quero lutar na certeza de vencer...
Quero buscar na certeza de alcançar,
Quero saber esperar para poder realizar Os ideais do meu ser... ENFIM, Quero dar o máximo de mim, Para viver intensamente e maravilhosamente TODOS OS DIAS DA MINHA VIDA!!! Achas que será assim tão difícil????
Guida

Se eu voltar a nascer

Se eu voltar a nascer

Será que depois desta vida nós voltaremos? Ninguém sabe pois de todos os que foram, não existe conhecimentos de cá terem voltado…
Mas, se isso acontecer e se algum conhecimento eu tiver de tudo o que se passou em minha vida eu vou deixar seguir o seu curso claro, mas acho que bem mais cedo eu irei lutar, para que minha liberdade seja maior, as limitações do ser humano são enormes, e o medo de magoar os demais é do tamanho do mundo, é bastante constrangedor, e limita-nos o nosso modo de agir, a nossa maneira de estar no mundo, de nos exprimir-mos, de nos dar-mos, porque tudo está controlado pela sociedade, o que parece mal, o que parece bem, e acabamos por não ser nós próprios, acabamos por ser aquilo que a sociedade quer que sejamos.
Ora quantas vezes e apesar de não ser nova, me apetece sentar no chão a brincar com as crianças, mas não posso! Maluca… diriam logo, não bate bem, perdeu o juízo… e se me apetecer descalçar? E levar os sapatos às costas? Coitada, passou-se…
Enfim, irei continuar a divagar, mas de uma forma geral são estas pequenas coisas que levam às grandes e nos leva a fazer só o que a sociedade em que estamos inseridos quer, por causa do parece mal.
12/12/2008
Margarida Simão

Natal da minha infância

Natal da minha infância



O frio incomodava. Os pés descalços a pouca roupa e uma saca em bico pela cabeça para proteger um pouco os cabelos que já se encontravam molhados, e brincávamos às escondidas, para não arrefecermos os corpos franzinos. Assim se comportavam as crianças da minha aldeia nos poucos dias que antecediam o Natal.
Quando nos sentávamos no átrio para apanhar uma réstia de sol, só se falava do Natal, não dos presentes pois esses não havia, mas das flores de azevinho e do musgo que tínhamos de apanhar no mato, e que era o motivo do nosso contentamento e alegria, a missa do galo, noite em que nos deitávamos tarde. A azáfama de fazer o presépio era um vai-e-vem, o presépio era lindo tinha água a correr,
musgo a sério com as figuras pitorescas , que era uma alegria ver.
A criançada com o ranho no nariz, mal agasalhados, e mal calçados, mas, estavam felizes.
O presépio era sempre feito por minhas tias mais novas, e a petizada trazia as verduras, pedras, e troncos. As figuras eram retiradas religiosamente do sótão, para ficarem expostas durante três semanas.

Na véspera do Natal a azáfama era grande. Íamos para casa de meus avós maternos, onde era feito o jantar com as couves e peixe seco, pois o bacalhau era caro.
Minha mãe junto com minha avó e tias faziam as filhoses lêvedas com abóbora e fatias douradas, arroz doce e aletria. Meu avô como estava muito frio e para que nos aquecêssemos, assava grão de bico e punha-nos nas mãos para ficarmos quentinhos a comer e contar histórias, junto à lareira.
Quando voltávamos para nossa casa já vinha tudo encavalitado no meu pai, um em cada braço outro às cavalitas e ainda outro ao colo, mortos de sono e exaustos da brincadeira, pois não havia o hábito de deitar tarde lá em casa.
Até que chegávamos ao grande dia!. De véspera já tínhamos deixado os sapatos velhos e rotos, mas bem limpinhos, junto à chaminé.
Dia de Natal bem cedo nos levantávamos, íamos acordar meu pai, que nos levava às cavalitas até à chaminé, para que pudéssemos ver o que o menino nos deixou, e o nosso espanto era tamanho, e a felicidade sem limites, pois os nossos sapatos
tinham uma bela boneca de trapos para cada uma de nós, eu e minha mana, os rapazes, meus dois irmãos, tinham uma bola de trapos , possivelmente feita pela bisavó Teresinha que era perita nesses feitos, três castanhinhas ( pois minha terra não é zona de castanheiros) e meia dúzia de rebuçados deliciosos,
e que nos deixavam no coração uma alegria imensa, pela grandeza dos bens recebidos.
De seguida, e como ninguém sofria de falta de apetite… tínhamos umas papas de milho bem quentinhas à espera para o pequeno almoço, e regadas com um doce delicioso chamado “arrôbe” feito de mosto (sumo de uva antes de esta fermentar), seguido dos doces da véspera, claro. Eram de facto os nossos acepipes, que ainda hoje fazem crescer água na boca de tão puros e bons que eram.
As roupas eram poucas, mas nem frio sentíamos, bem está o ditado popular “ … Deus dá o frio conforme a roupa…”, pois com tão pouco os nossos olhos transmitiam e sentiam alegria, saúde e muito, muito amor, em todos os Natais. Onde o dinheiro não existia, existia sim o calor humano.
Dezembro 2008

Margarida Simão