sexta-feira, 15 de maio de 2009

A minha pedra
















Bati com a porta e saí.
Irritada como estava com esta vida que não é a minha vida. Vida parada, estática, monótona, sem afazeres, sem objectivos, e como pode alguém viver assim?
Meti-me no carro e andei sem destino durante nem sei quanto tempo.
Até que sem me aperceber e com este turbilhão de ideias a moerem-me o juízo.
Acabei por parar junto ao mar e naquela pedra tão especial que costuma ouvir meus queixumes me sentei.
Era meia tarde, os meus sentimentos estão muito revoltos, mas dei comigo a pensar nesta caixa com tanto conteúdo que é nosso cérebro, tudo muito bem arrumado ou muito desarrumado por vezes, e com algumas caixas a quererem sair do armário e sacudir o pó. A maior parte delas não são boas.
Aquelas que dizem respeito ao meu ser tento fazer separação de sentidos , mas mau grado meu revolto-me contra mim.
Será que na vida só a mulher tem deveres? E as regalias quem as tem?
Ainda bastante irritada por estas perguntas a mim mesma, e sem achar as respostas que toda a vida tenho procurado dar a mim própria.
O calor era bastante, o sol teimou em me beijar a tarde toda e a minha cara estava já bem escaldada, seria do sol ou do vulcão existente dentro de mim e que estava em efervescência tal era a irritação que me provocava a vida.
A retrospectiva que fazia não era boa o que sentia era revolta por ter sido tolerante e benévola toda a minha existência e que tinha lucrado? Nada!... Bem sei que quando as doenças aparecem não se fazem anunciar, mas que raio, à que lutar contra ela, a vida é feita de luta, mas os homens acomodam-se e é por esse comodismo que estou assim…
Mas este sol continua a fustigar-me a cara como que a dar-me força, como que a renovar-me energias, e vem-me à ideia aquele ditado popular “ Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé”.
Mas com tudo isto penso que também não existe só lamentações, estas são só em espaços temporais, caso contrário ninguém aguentava.
A vida tem de ser partilhada no bom e no mau. E como nunca houve partilha eu sempre carreguei o fardo, acho que isso é que me deixa tipo vulcão e furibunda…
O sol está quase a roçar a linha do horizonte, e o meu corpo está mole, devido ao calor e ao cansaço, valeu-me uma brisa suave que começou a roçar-me a cara e os cabelos…
De repente como se tivesse sido picada por um insecto ou uma descarga eléctrica, despi a roupa fiquei em fato de banho, e nun impulso atirei-me à água e nadei com braçadas rápidas em direcção ao por do sol. A sensação é divinal deixei-me ficar a saborear a leveza do mar e o seu sussurrar nos meus ouvidos como que a querer tranquilizar-me das minhas angústias. Assim permaneci muito tempo, ora boiando, ora mergulhando com uma sensação de paz em meu espírito.
Os peixitos vieram ao meu encontro, alguns mesmo roçando as minhas pernas não sei se as beijando se dizendo que faz aqui esta intrusa?
Estava deliciada e quando me apercebi do tempo que estive a namorar com o mar nadando para lá e esbracejando para cá, estava já a anoitecer, beijei os peixes beijei a água e saí para a minha pedra conselheira. E ele me disse baixinho:
- És tolerante e paciente amiga, mas pára! Olha para os lados e para a frente, a vida tem muita beleza ainda para a aproveitares, não desprezes o que ultrapassaste na vida, mas ainda tens muito mais para viver.
Vai à luta mulher…
As estrelas já estavam a cintilar no céu e a sua luminosidade estava a indicar-me o caminho.
A paz que senti sentada naquela pedra, e a que senti da envolvência que senti dentro de água , a sintonia com os peixes, fez-me olhar para uma realidade, o viver…
E decidi nesse momento, sorrir para a beleza da vida, sorrir para o bom que ela tem para nos dar, embora carregando com seus fardos…
E assim deixei meu recanto, onde revi mais uma vez um pouco do meu interior, e gostei do que estava a sentir, uma abertura onde pudesse entrar uma réstia de um sol diferente que me aquecesse a alma…

07 de Abril de 2009

Margarida Simão

1 comentário:

  1. Amiga, Guida: Obrigado por mais um comentário no meu Blog e tb por disponibilizar umas fotos de golifinhos. Vc me envia...?!
    Agora, quero falar do seu Artigo pq "podia ser" um Artigo meu e de muita(o)s Portuguesas e Portugueses: o mar, o rio, sempre exerceu um FASCÍNIO e sempre foi uma fonte de ACONSELHAMENTO. Quantas vezes eu não fiz TUDO ISSO que a Guida fez...?!
    Tenho saudades do "meu" Rio e do meu "Oceano"...acredite...!!!
    Talvez mesmo das "coisas" que me deixaram MAIS saudades...!!!
    Abração.
    Bom Fim de Semana.
    Rui
    1lindomenino

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