segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sintonia...







Por onde me volto não encontro vida. Só existe ao meu redor árvores de cimento e pior, nem braços têm... Só troncos, estou rodeada de cimento, sem vida sem calor, sem sentimentos.
Mas o meu espírito empreendedor não fica por aqui, e vou continuar a fazer as minhas buscas, tentando encontrar um lugar onde se viva , com todos os bens que a mãe natureza nos possa dar.
Neste emaranhado de prédios todos tipo caixotes, onde mal se vê o céu, e as estrelas apenas ouvimos dizer que existem pois não se vêm nestas cidades de ferro e betão. Até a via láctea que nos servia de guia quando de noite caminhávamos, desapareceu, deixou de ser vista...
É o sinal da modernidade eu sei, mas estou com muita vontade de voltar a sentir, os sabores e cheiros da terra e de poder ver o céu em toda a sua plenitude e sem blocos de cimento.
Saí da cidade e fui até onde minhas pernas me levaram, caminhando sem destino, o ditado do povo diz “ querer é poder... ” E quando dei por mim estava no meio de uma floresta de árvores altíssimas que mal se via a sua copa, de variadíssimas formas e cores. O chão coberto de musgo, plantas rasteiras, e folhas de árvore. Os laivos de sol que conseguiam penetrar através da ramagem e das flores que se encontram por todos os lados davam uma luminosidade, que convidava ao passeio sem horas e saboreando ao pormenor tudo o que me rodeia.
Quedei... e até fiquei com a respiração suspensa tal era a beleza que me rodeava...
Estava numa zona baixa e comecei a ouvir um som idêntico a endecha bastante muito longínqua, e pensei de onde virá esta música um pouco triste?
Decidi imediatamente ir atrás do som. Haviam árvores que tinham os troncos de tal modo grossos que só para as abraçar seriam precisas três ou quatro pessoas de braços bem esticados. Avistei uma manada de cavalos selvagens que passeavam e comiam com suas crias o verdejante repasto que se via por todo o lado.
E o som era cada vez mais audível e menos triste. Os desenhos que se viam formados pelo sol e pelo arvoredo é digno de mestres da pintura. Estava no paraíso imaginei que tudo á minha volta era sonho...
Dei um salto tal foi o susto, naquele silêncio e tão atenta estava ao som da música longínqua, tal foi o salto dado pelo belo coelho pardo que me passou junto ás pernas, creio que também ele se sentiu incomodado com esta intrusa no seu território, e lá continuou com as pernas bem longas e a pular até desaparecer da minha vista.
Parei junto a um valado onde umas silvas verdejantes com milhões de picos, e cheia de deliciosas amoras. Na verdade já me apetecia comer qualquer coisa, e nem pensei duas vezes, larguei a mochila que trazia às costas e lá fui eu à “chinchada” (nome utilizado na minha aldeia para quem vai a terra alheia comer fruta). Apanhei e comi amoras até me apetecer. Fiquei com uma sede de morte, então decidi continuar a caminhada, procurando o que se estava a transformar numa alegre melodia, o som da água que já se ouvia bem mais perto. Oh céus! Não estava a acreditar, eu só podia estar a sonhar, belisquei-me e senti-me acordada. Na verdade o que os meus olhos vêm e o meu coração sente está em sintonia...
Uma maravilhosa cascata com uma água tão transparente e com um sol diferente servindo-lhe de manto, e desse manto maravilhoso saia um belíssimo arco--íris.
As cores, os sons, o crepitar da água e seus salpicos, o verdejante terreno que ladeava , as árvores com seus longos fracos a quererem acariciar toda aquela beleza, deixaram-me por longos instantes muda de espanto, creio mesmo que meu coração deixou de bater e por instantes senti-me levitar. Tudo isto era muito mais do que eu estava à espera quando iniciei minha caminhada.
Os passarinhos continuam a fazer parte desta estupenda orquestra em conjunto com todos os outros instrumentos musicais e suas harmoniosas cores e por momentos veio-me á ideia se este seria o local a que chamam “Eden” e que os historiadores narram o local onde Adão e Eva viveram... Para mim estava a ser o paraíso, pois a harmonia é total.
Mas a minha caminhada tinha de prosseguir, portanto depois de descansar, de ter fotografado com meus olhos e minha mente tudo o que me rodeia, ter bebido a cristalina água com a minha mão em concha, lá segui caminho e apesar de já ter andado horas não me sentia cansada, antes pelo contrário fiquei até com as forças renovadas, pela tranquilidade e beleza do meu achado... Este local irá ficar para sempre na minha mente para futuros passeios e irão servir de terapia para uma mente sã...
Descalcei-me para poder atravessar o riacho em frente ás quedas de água, afim de continuar minha caminhada, e ainda com o deslumbramento que me ia ficar na memória por longo, longo tempo.
Eu que até nem gosto de estar sozinha neste momento estava a adorar tudo o que via e sentia estava tão absorta e nem por um momento me senti só.
Ao fim de um tempo reparei que a floresta se tornava menos densa as árvores de grande porte rareavam, mas a paisagem apesar de estar a mudar, não estava menos bonita, apenas era diferente mas igualmente bela...
Há frente de meus olhos surgia como que por magia um espaço amplo de tons dourados e ondulantes com uma grande mistura de girassóis em flor com a sua corola enorme virada para o sol, e milhares de abelhas bebendo o seu néctar.
Deitei-me de costas aproveitando a palha da aveia, que me servia de cama e fiquei a ver o azul do céu a servir-me de tecto, maravilhosa sensação, até porque já me sentia um pouco cansada. Pensei de seguida, hoje ficarei a dormir na cabana de palha feita possivelmente pelo agricultor dono desta pradaria, e que me despertou a atenção pela sua perfeição, pessoa engenhosa certamente...
Depois de uns momentos de reflexão e descanso, levantei-me e segui em direcção à cabana para fazer o reconhecimento do local e as hipóteses de pernoita, estava a ser uma intrusa mas avancei.
As paredes eram feitas de canas e cobertas com palha, era redonda com cerca de seis metros de diâmetro, o tecto tinha uma engenhosa armação de arames e troncos coberto com grandes folhas, na porta tosca, existia muito bem trabalhado como se fosse a chave de um castelo, com desenhos entrançados, trabalho de muita paciência... Abri e entrei, servia na perfeição, de um lado uma tarimba servia de cama, com uma lanterna de petróleo abastecida, do outro em cima da terra batida um fogão de campismo e os apetrechos próprios para um belo chá ou café, que também havia possivelmente as reservas para emergências.
Retirei da minha mochila as sobras do meu lanche, fiz um chá de alecrim, comi, bebi o chá e fui dormir para a rua. Deitei-me á porta da cabana e comecei a contar as estrelas, coisa que não fazia desde catraia, e tinha sido esse um dos motivos da minha caminhada, ver estrelas... De volta e meia caía uma estrela e eu pedia um desejo como fazia em tempos idos, tanto as contei que adormeci.
Trim, trim, trim, acordei de um salto horas de ir para o trabalho? levantei-me com uma presteza e corri para a casa de banho qual não foi o meu espanto, o meu braço estava marcado com um grande beliscão...
Raios!... tudo não passou de um sonho, um belo sonho a cores...

27 de Maio de 2009
Margarida Simão

3 comentários:

  1. Adorei este seu texto, revela muita imaginação,mas o que seria de nós sem esta dádiva...adoro e vou muitas vezes a esse mundo maravilhosos...dos sonhos!
    Um abraço

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  2. Será que por onde andas..não encontras mesmo vida? A vida existe..nos animais..nas plantas..nos sentimentos,,,como talvez naquela cabana onde os sonhos te levaram.
    Nuno

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  3. Guida gostei muito do artigo. Pena não ser realidade.
    Sou uma surtuda,tenho estrelas reais, não consegui ver
    "A Estrada de S.Tiago". Estou sempre acompanhada com belas melodias das aves residentes. Jokas da Zeza

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