quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Nétinhas

 
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Nétinhas
Andava eu perdida na montanha, desesperada por encontrar a estrada que me daria acesso ao hotel, de onde tinha saído ainda o sol não raiara, para poder fazer as minhas investigações do terreno..
O dia tinha amanhecido bonito, mas nesta altura do ano - inicio de Dezembro, todo o cuidado era pouco, eu vim bem apetrechada de lanche na mochila, água encontro com facilidade pelas escarpas onde cai sempre umas quedas de água minúsculas, mas suficientes para saciar a sede a qualquer veraneante que se encontre por aqui.
Mas a minha curiosidade em ver todos os pormenores, falar com todas as pessoas da serra que encontro, não me deixa descansada e leva-me a ir sempre mais longe na minha busca.
Vejo ao longe uma casinha de pedra muito pequena mas de onde saía pela chaminé um fumo bem preto como se estivessem a queimar algo tipo borracha. Fui-me aproximando.
Bati à porta, mas qual quê? Ninguém me ouvia tal era a azafama. Meti a cabeça para lá da porta, e vi o que estava a acontecer – um forno estava a aquecer…
Uma senhora de meia idade, atarefadíssima metendo para dentro do forno , hastes, troncos, videiras e outros restos de mato, para que o forno aquecesse, ao lado numa bancada estava dois alguidares de barro um com massa de trigo já amassada e levedada, o outro nas mesmas circunstâncias mas com farinha de milho, só faltava mesmo o forno aquecer.
Boa tarde minha senhora – disse eu. Olá boa tarde, resposta bem apressada. Peço desculpa senhora mas a massa está no ponto e este forno como a lenha está um pouco húmida teima em demorar a aquecer, assim que estiver em ordem, poderá ajudar-me a pôr o pão no forno e aí vamos conversando ?
Esperei um pouco mais e a minha anfitriã sempre de forquilha em punho para empurrar a lenha, logo se voltou para mim com um sorriso feliz, e disse: está em ordem para que o pão fique o mais saboroso do mundo… Com uma desenvoltura de fazer inveja, ela me explicou como deveria fazer que o pão ficasse com um determinado formato e como eras costume naquele local. A farinha voava e eu esforçava-me – não me estava a sair mal.
Até que todo o pão foi colocado miraculosamente naquele espaço redondo, com a o espaço entre uns e outros de poucos milímetros mas suficientes para que não se juntassem.
A medida utilizada era o alqueire, neste caso a senhora amassava meio alqueire de farinha de trigo que dava cerca de 14/15 pães e um quarto de alqueire de farinha de milho, onde fazia 5/6 pães, porque a farinha é bem mais pesada.
Enquanto trabalhávamos íamos trocando conhecimentos, e ela ficava boquiaberta com a o meu desconhecimento sobre as coisas do campo e de como se faz o pão e tantas outras coisas que na cidade nem pensamos nelas.
E o pão com toda esta conversa estava "a modos" – expressão utilizada no local, para sair do forno . E com uma destreza de mãos a senhora agarrou numa pá feita de madeira mas com um cabo bem grande, onde um a um , ia tirando o pão passando-lhe uma vassoura de palha para tirar o que restava da farinha indo colocando os mesmos numa bancada onde se encontravam uns cobertores próprios para o efeito, o pão ficava ali até arrefecer, para manter uma textura estaladiça e aguentar cerca de uma semana sem endurecer.
O engraçado que também eu desconhecia sempre que a senhora cozia o pão, fazia com a mesma massa uns pãezinhos pequeninos a que chamava netinhas, porque era um miminho para seus netos comerem quentes com azeite e açúcar, sendo a delicia da petizada.
Depois da ajuda inesperada que dei com muito prazer, e mais um pouco de conhecimento que obtive, lá me indicou a boa senhora o caminho a seguir sem me voltar a perder espero, de regresso ao hotel.
04 Setembro de 09
Margarida Simão

O Meu Mundo


Ao fundo ouvia-se o coaxar da rã.
A menina rã estava desolada, já era noite alta e ela encontrava-se só, muito só…
Queria arranjar uma companhia para que a solidão terminasse, e não se sentisse tão sozinha, naquele belo lago rodeado de árvores e arbustos e flores em abundância, até rosas de porcelana havia.
Como não tinha transporte para se deslocar, lá foi dando uns saltos aqui outros acolá. Sempre atenta aos perigos que lhe poderiam deparar…
Sempre atenta a outros animais que ameaçavam a sua existência.
Depois de muito caminhar, e já o sol despontava no horizonte a bela rã deu com uns olhos meigos que a olhavam com ternura, de uma bela rã macho! Linda de morrer!… Deu-lhe uma quebra de tensão, sentiu-se tão mal que logo a rã macho se prontificou para a ajudar. Era mesmo isso que ela pretendia e sentiu-se desfalecer nos braços fortes daquele que viria a ser o seu amado.
Olharam-se nos olhos tão intensamente, que logo se aperceberam que não mais se haviam de separar.
Depois de ter encontrado seu amado, e numa certa manhã de Inverno do ano de 1995, em que a chuva e o frio gelava os ossos, a vontade de saltar da cama tornou-a lerda.
Mas era necessário que a vontade se impusesse. E assim, de um salto a senhora rã de seu nome Taly, precisava de prosseguir seu caminho em busca da restante família de seu marido. Deu um salto da fôfa cama feita com pétalas de flores, e debaixo de uma gigante folha de bananeira.
Seu marido o senhor rã macho, de seu nome Ochaki, perdeu-se de sua família havia já um tempo.
A Taly vendo seu amado Ochaky sempre tão triste, decidiu que haviam de fazer umas viagens procurando a família perdida.
Taly era uma bela rã, pernas esguias, e bem ágeis verde-claro da parte superior e com uns tons amarelados na parte inferior, a barriga bem lisa de um branco pérola, olhos vermelhos luzidios, assim como sua língua, seus lábios bem desenhados esses eram de um tom preto brilhante, sua lombeira de um verde lago, quando a olhávamos sentíamos como que uma calma e paz interior, porque suas cores eram refrescantes e serviam-nos de tranquilizante.
Ochaky uma bela rã macho pôs a sua boina lilás ma cabeça, agarrou o seu trompete, que lhes fazia companhia em longas caminhadas e lá seguiu com sua amada em busca da sua família.
Os seus saltos ágeis e elegantes, convidavam-nos a rebolar nas ervas para que sentíssemos o cheiro da terra molhada. À noite quando nascia a lua e as estrelas nos servem de companhia é belo de ver os dois Taly e Ochaky rebolando na frescura do verde das ervas, como que a agradecer à natureza toda a beleza em seu redor.
E assim os dois se puseram a caminho, com uma bela trovoada como companhia… Seguiram por caminhos desconhecidos, e seguindo o instinto do sr. Ochaky, os saltos de ambos eram elegantíssimos e rápidos, depois de várias horas de folha em folha, de tronco em tronco, ficaram extasiados com um lago pequeno, mas com uma água transparente, cheia de nenúfares, o cheiro puro que se exalava, os deixava como que embriagados de tamanha beleza, o lago estava rodeado de altos arbustos, hortenses e orquídeas de várias cores. Ficaram sem conseguir articular palavra, deitados de costas com os braços atrás da cabeça e saboreando o resultado da caminhada.
Perderam-se no tempo a contemplar o paraíso que os rodeava.
O sol estava a tocar a o limite do horizonte com uns tons vermelhão e laranja lindos… despertando-os para uns sons que provenientes do outro lado do lago.
Aproximaram-se para ver quem os despertaria da sua felicidade pelo paraíso encontrado, e as suas bocas de lábios bem pretos brilhantes abriram-se de alegria, e coaxaram tão alto que assustou os outros habitantes do lago, correram para eles e abraçaram-se até perder o fôlego… Encontraram a família do sr. Ochaky, a felicidade era total, pela família encontrada e pelo paraíso descoberto.
Taly e Ochaky decidiram que esta seria uma boa opção para aumentar a família que queriam ter, e criá-la num paraíso terrestre, que o animal racional ainda não tinha descoberto.
01 Setembro 2009
Margarida Simão