segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um bom contador de histórias, meu pai.


Apesar de só ter aprendido a escrever e ler em Cabo Verde, local para onde foi obrigado a ir fazer o serviço militar, tinha uma letra bonita de fazer inveja aos doutores... E um dicionário sempre em cima da mesinha de cabeceira.
A sua profissão era sapateiro, mas trabalhava no campo e todos os biscates que apareciam serviam para ganhar mais uns trocados, para comprar o peixe ao domingo, quando vinha da missa. A sua riqueza era os braços de trabalho, e a honestidade.
Nasceu em 1920 e como não havia registo da maior parte das coisas, os feitos eram passados de boca em boca. Assim, nas tardes de domingo, era vermos o pessoal da aldeia em redor do belo sapateiro, cada um contando as suas histórias desde “almas penadas”, “bruxas malvadas”, a outras do diz-se que diz, e o sapateiro contou:
Já verificaram que quando vou à vila da Lourinhã, nunca lhe dou esse nome? Digo sempre: Vou à terra da Loba. E aproveitou a contar tudo o que sabia.
Existia no concelho uma casa senhorial que nos anos 30 do séc. XX, era habitada por uma senhora de nome Amélia do Perdigão. Tinha uma cadela de guarda de uma beleza fora do comum. Certo dia a cadela apanhou os grandes portões de ferro abertos e ala que aí vai ela, liberdade que me chamas, e metendo-se por esses matagais adentro...
Passados uns dias caçadores dessa zona que só apanhavam uns coelhitos de volta e meia deram de caras com o animal daqueles e pensando que era uma loba, aqui vai a disparar, matando a bela cadela branca. Ora bem uma loba naquele local era coisa estranha, nunca ninguém tinha verificado tal. Aí os indivíduos viram um furo de angariar una escudos extras, para tal levaram o animal para a praça do coreto e puseram-na em exposição, quem quisesse ver a raridade tinha de pagar bilhete...
Então surgiu a canção:
D. Amélia do Perdigão pois então,
Tinha um cão de sentinela,
Mas não ficou satisfeita a sujeita,
Por lhe terem morto a cadela,
Depois da cadela morta o que importa,
Por esses aragões,
A dona do animal se quis ver o funeral
Teve de pagar cinco tostões...

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