quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O VALIOSO TEMPO DOS MADUROS


Poema de Mário de Andrade

Contei meus anos e descobri que terei menos

tempo para viver daqui para a frente do que já

vivi até agora.

Tenho muito mais passado do que futuro.

Sinto-me como aquele menino que recebeu uma

bacia de cerejas.

As primeiras, ele chupou displicente, mas

percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com

mediocridades.

Não quero estar em reuniões onde desfilam

egos inflados.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir

quem eles admiram, cobiçando lugares, talentos e

sorte.

Já não tenho tempo para conversas intermináveis,

para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias

que nem fazem parte da minha.

Já não tenho tempo para administrar melindres de

pessoas, que apesar a idade cronológica, são

imaturos.

Detesto fazer acareação de desafectos que

brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral

do coral.

"As pessoas não debatem conteúdos, apenas os

rótulos".

Meu tempo tornou-se escasso para debater

rótulos, quero a essência, minha alma tem

pressa...

Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado

de gente humana,

muito humana; que sabe rir de seus tropeços,

não se encanta com

triunfos, não se considere a eleita antes da hora,

não foge da sua mortalidade,

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

O essencial faz a vida valer a pena.

E para mim, basta o essencial!

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