sexta-feira, 17 de julho de 2009

Pão, marmelada e queijo fresco

Com uma tablete de chocolate de kilo na mão a minha vontade de comer continuava a aumentar e nem me preocupava com as roupas apertadas devido à celulite e afins acumulados…
As férias estavam a decorrer como planeado, termas, calma, paz, campo etc. Mas este bicho da madeira que faz um barulho, rhum, ruhm, rhum irritante, estava a incomodar-me. Tentei acalmar-me e ver no meu intimo o que me estava a acontecer… Era um ainsatisfação de tal modo agressiva, que dei comigo a implicar, com tudo e com todos, daí a satisfação com que o chocolate estava a ser devorado!
Para além de todo o bem estar das termas, estava a precisar de ver e conversar com as pessoas, ouvir suas histórias e poder contar as minhas. Saí do edifício e entre cada pedaço de gulodice que ingeria melhor era a minha disposição.
Dei a volta à vila e sentei-me num jardim com uma sombra deliciosa, sentei-me num dos bancos onde se encontravam duas pessoas.
Boas tardes, disse eu. Boa tarde? Só se for para si, respondeu-me uma das senhoras enquanto a outra me olhava de soslaio, garatujando algo que para mim não foi perceptível, e afastou-se.
Mas que mundo o nosso comentei! Dei as boas tardes de um modo tão simpático que seria para dispor bem, e não criar azedume em ninguém.
A senhora que se mantinha sentada, olhou-me bem nos olhos e perguntou:
- A menina não é daqui pois não? Não, respondi. Sou do Alentejo e vim até cá para fazer uns dias de termas, mas estava com muita curiosidade de conhecer a vila e as pessoas que a habitam, a senhora é de cá? Sou sim menina. Neste local do país as pessoas do sexo feminino são tratadas por menina, independentemente da idade que tiverem. - E continuou, nasci e vivi sempre aqui em Montebelo, só fui ao Porto duas vezes ver um parente que estava mal.
Dou toda a minha atenção a esta anciã, e encetamos uma longa a agradável conversa. Com um aspecto lindo, olhinhos azuis pequenos, mas muito ternos, que sorriam conforme nossa conversa crescia, magrinha mas rija de cajado na mão para amparar o peso dos anos. A senhora Rita - assim é seu nome , começou a contar-me o inicio da formação de sua aldeia.
Sabe menina há muitos, muitos anos, no tempo dos primeiros reis um homem do povo cometeu um crime, nem sei qual, e o castigo dele foi ser posto a viver neste monte sem ajuda de ninguém e obrigado a viver aqui vinte anos.
O homem veio e como era muito trabalhador e organizado, começou a construir a sua casa de pedras e ia agarrando e prendendo o gado que apanhava na serra. No Inverno isto é demasiado frio, mas com a lenha que guardava, caça que apanhava, frutos existentes com abundância, depressa o homem se organizou, para que a sobrevivência lhe não fosse tão penosa.
E o homem conseguiu, foi o primeiro habitante de Montebelo, com o decorrer dos anos o homem já tinha sua vida organizada, e com bens suficientes para que pudesse fazer troca por outros que lhe faziam falta e de que tinha saudades. Então decidiu arriscar e procurar uma aldeia onde pudesse trocar seus haveres por outros, num dos cavalos selvagens que conseguiu agarrar, e que já fazia parte dos seus bens, colocou-lhe uns alforges, feitos de vime, onde colocou: - queijos, caça, frutos e peles e lá seguiu pelos montes de modo a não ser apanhado pela guarda do rei. Claro tão perto estava que foi dar a Espanha. Não se atrapalhou, conseguiu fazer a troca por bens de que muito precisava e voltou feliz para a sua prisão…
Tantas vezes fez a viagem que acabou por se enamorar e o amor era recíproco, por uma bela e trabalhadora mulher da orla espanhola.
E foi este o primeiro casal que fez nascer esta aldeia, disse ela a senhora Rita.
A senhora Rita estava feliz por poder contar possivelmente mais uma vez a sua história da sua aldeia a pessoas de outros lugares, mas a falarem a mesma língua que a sua.
E a encantadora senhora estava tão eufórica pela atenção com que a ouvi, que me diz: menina é já aqui a minha casa tenho que lhe oferecer um pouco de pão feito por mim com marmelada e queijo fresco, e um belo chá de tília que tenho aqui no quintal… É obvio que era impossível dizer não, eu própria queria continuar a ouvir as maravilhosas e sábias palavras da bela senhora.
E lá seguimos, ela amparada no meu braço como se me conhecesse de toda a vida. Eu toda orgulhosa por ir ao lado de uma senhora com todas as letras.
De repente lembrei-me e perguntei! Senhora Rita gosta de chocolate? Claro que sim menina, quem é a mulher que não gosta? Então fazemos uma troca, eu dou-lhe o meu chocolate de kilo, a que já falta umas duzentas gramas e a senhora dá-me um belo lanche de pão com marmelada e queijo fresco? Negocio fechado, vamos lanchar menina.
No dia seguinte e outros que se seguiram minhas tardes eram preenchidas na companhia alegre e serena da bela anfitriã.
Sempre que lá volto, não esqueço de lhe levar o chocolate. Assim como não me esqueço de comer pão com marmelada e queijo fresco, graciosamente oferecido pela menina Rita.

Dia 12 de Julho de 2009

Margarida simão
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