terça-feira, 18 de agosto de 2009

A paz na ilha




Dormi mal, voltas e mais voltas, será que os lençóis têm picos ou urtigas? Não! O defeito era meu.
Na realidade a noite foi difícil, porque a mente estava ocupada com o que me propunha fazer no dia seguinte…
Mas fez-se manhã e às 6.30 horas levantei-me, enfiei umas calças de ganga e um casaco polar, que tenho para o efeito e lá vou eu com a minha companheira à rua, fazermos a nossa caminhada matinal, com a frescura que se fazia sentir naquela manhã de Abril. O sol a medo a romper no horizonte, fazia lembrar-me constantemente a minha azáfama para esse dia...
Eu sabia que se queria tanto ter aquelas conchas, aqueles búzios, as estrelas do mar, e a flora submarina, que tanto me encanta, tanto na cor, tacto e cheiros... teria que me aventurar, lançar ao mar, nadar com calma e saborear cada braçada…A distância era pequena, mas o receio de fazer o trajecto sozinha, deixava-me inquieta.
Ambicionava a conquista daquela ilha, situada mesmo na foz do Tejo, que só as gaivotas utilizam para descansar de suas pescarias e que nos oferece uma paz que não há dinheiro que pague. Para além disso eu poderia com minha busca e persistência, colocar dentro do saco que iria levar para o efeito, as minhas conchas em forma de leque, os meus búzios de vários cores, para que mais tarde pudesse ocupar o meu tempo fazendo meus trabalhos manuais, que tanto prazer me dão.
Mas ainda agora estava a voltar da minha caminhada e já estou a divagar, sobre o que farei... O certo é que estava com a barriga às voltas, e sentia os braços e as pernas a tremelicar… não podia!
Tomei meu banho, com uma minúcia diferente, escolhi uma roupa simples mas cuidada, tanto a interior como a exterior, besuntei-me com um pouco de creme, tive o cuidado de não pôr perfume, porque era desnecessário visto ir para dentro de água, mas tive que pintar os olhos com cuidado, sombra branca. Com o lápis fino delineei o risco - faz mesmo parte de mim este risquinho!
Almocei, e lá segui caminho.
Segui pelo caminho mais rápido, que nos leva para a ilha, o trilho das gaivotas é excelente.
Claro que cheguei à ilha mais cedo do que o que tinha pensado.
O trajecto correu sem incidentes, apesar da barriga ainda andar às voltas...
E, quando cheguei àquele pequeno espaço só meu, das gaivotas e de outros pássaros de que não sei o nome, o céu de um azul transparente e umas nuvens, um pouco mais escuras, de volta e meia apareciam, mas logo desapareciam para me deixarem contemplar o sol, que logo surgia e me aquecia até os ossos...
E o meu espanto que até a dor de barriga desapareceu como que por milagre, as conchas eram lindas com umas cores bem vincadas mas suaves, mas antes de começar a juntá-las, dei uma bela caminhada pela ilha. Há muito tempo que não aparecia por ali vivalma… Corri, rebolei tipo croquete, as corridas na água fizeram-me rir, pois quanto mais corria mais me molhava, mas era delicioso tudo o que me estava a acontecer...
Então agarrei no saco e comecei a fazer a minha busca, encontrei búzios, grandes e pequenos de variadíssimas cores, o mesmo aconteceu com as conchas, aproximei-me das rochas com a água pelos joelhos e apanhei umas lapas bem agarradas às pedras, mas com uns tons lilás e azul fora do comum. E, incrível, até encontrei uns ouriços do mar, redondinhos com seus picos e achatados nos extremos, lindos... ainda me entretive bastante na sua observação, nem os tirei do seu habitat, porque seus picos são frágeis e não quero molestar os habitantes da ilha, não foi essa a minha ideia quando vim até cá...
O sol estava quente mas não em demasia, o calor que sentia era até bem confortável, como que mágico a acariciar-me o corpo, depois de uma azáfama de tanto contentamento que me fez perder a noção do tempo.
Mas ainda fui junto às rochas pela água dentro buscar umas plantinhas cor-de-rosa velho para pôr dentro de meu saco.
Que infantilidade até me veio à ideia de um filme muito badalado na época “ A lagoa azul “ pelo facto de me encontrar só com o céu a servir de tecto e a usufruir de tanta beleza de uma tranquilidade fantástica tudo o que a mãe natureza tem para nos ofertar.
Depois de ter recolhido todos os meus importantes achados, entretive-me a dispô-los na areia e imaginar as belezas que iria conseguir fazer desde colares, pulseiras, sacos de praia, enfim uma infinidade de trabalhos que a imaginação me haveria de ajudar.
Então todos os achados espalhados e vistos com os raios de sol a embelezar o que ficou representado, se transformaram num belo ramo de flores, de várias cores, as conchas de leque a servirem de rosas, os búzios flores silvestres, até as flores aquáticas com os tons salmão, formavam uma harmonia de cores e paz...
Deitei-me junto aquela inexplicável beleza, e sonhei, que o mundo emanava paz e muito, muito amor...


28/04/2009
Guida

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