terça-feira, 18 de agosto de 2009

Rosas de porcelana




A janela estava aberta para que entrasse o fresquinho da manhã. De olhos ainda fechados, mas com uma preguiça de me levantar fiquei ali na madorna, saboreando os raios de sol que teimavam em me bater na cara.
Na moleza que me encontrava e como tudo em redor era silêncio, de repente comecei a ouvir um barulho, originado pelo pouco vento que corria, e como que a querer sacudir a preguiça que me invadia…
Mas a curiosidade era maior que o sono, e apesar de não ter programa para o dia decidi levantar-me. Espreguicei-me longamente e foi ver de onde provinha aquele som de “bate-bate” diferente mas provocado pelo vento.
Saí para o quintal apenas com o pijama fininho, e logo tiritei, estava um griso que fez arrepiar, mas a curiosidade logo fez esquecer o frio.
Espanto o meu, um caracol agarrado à haste de um pequeno arbusto, e que era arremessado consecutivamente de encontro à janela! Mas o pobre caracol bem agarrado não desistia da sua subida.
O quintal estava bem florido, e com cautela agarrei no animal e pousei-o junto a umas belas flores , existentes num canteiro e que nesta altura do ano tem as mais belas e variadas cores e n os mais diversos formatos.
No meio daquele vaso gigante de cores estava uma que se distinguia das demais pela sua beleza fora do comum. Era uma “ Rosa de Porcelana” a sua origem é africana, da zona de Lunda Norte e Lunda Sul de Angola. Desconheço como vieram aqui parar.
Mas como a sua beleza me deixa sempre extasiada retirei o caracol cuidadosamente para que a sua carapaça não continuasse a bater na janela e coloquei-o delicadamente junto às rosas, claro que ele não se fez rogado o local para ele fazer o seu passeio matinal era bem mais agradável, do que a bater nos vidros das janelas.
Belíssimo despertar o meu, porque todos os meus sentidos ficaram alerta.
Os meus olhos rejubilaram com o brilho do sol e o brilho das flores ainda cobertas de orvalho.
O meu olfacto ficou enlevado com os cheiros de terra molhada, com o suave perfume que as flores enviavam sempre que eram sacudidas pelo vento. Cheiro suave e uma mistura diversa, mas que no seu conjunto nos envolve e nos eleva, e é indescritível descrevê-los tal a sua diversidade.
Com o meu tacto bem apurado deslizei os dedos sobre as folhas, flores e suas pétalas uma a uma, macias que pareciam seda faziam-me lembrar a pele de bebé de meus filhos e netas, e meus dedos foram-se passeando ao de leve entre esta grande variedade de cores, cheiros e maciez destas divinas plantas com seus caracóis pachorrentos passeando por elas e que tanta alegria e paz me transmitem…
Estava de tal modo abstracta do mundo que dei comigo a comer umas lindas pétalas das rosas de porcelana! E para meu próprio espanto acabei por fazer concorrência aos caracóis, o gosto era fabuloso, adocicado e fresco, que não resisti e acabei por fazer uma degustação às pétalas de outras plantas orvalhadas que estavam no jardim, e na realidade as plantas assim como são lindas à vista, são deliciosas ao paladar.
Parei de comer para ouvir uns zumbidos de abelhas e outros insectos que me estavam a fazer concorrência. Na visita às belas plantas até uns passarinhos de v´~arias cores vieram beber o maravilhoso néctar daquelas flores…
Com todo a beleza que me envolvia e como estávamos numa bela manhã de sábado de uma Primavera já avançada, decidi e fui vestir uns calções velhos, vesti uma blusa leve mas bem usada, umas sapatilhas frescas mas óptimas para caminhar, agarrei no meu mp3, onde tenho alguma da minha música preferida, coloquei um chapéu de palha na cabeça, e lá segui eu pelos montes saboreando e respirando o ar puro e leve da serra, feliz com o que via e sentia em meu redor.
O manto de neblina se elevava do chão provocado pelo calor ainda fraco do sol, era um espectáculo que me transportava ao mundo esfusiante de felicidade, era o meu tempo “ suspenso”.
Maio 2009
Margarida simao

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