sábado, 10 de janeiro de 2009

A vida dos Militares(teatro)

• A vida dos Militares nas ex-colónias



• Depois de um contacto da actriz Sr.ª D. Fernanda Lapa, com a nossa associação “ Apoiar “, para assistirmos a um ensaio de uma peça onde o tema é: A Vida dos Soldados na Guerra.

• Um grupo de senhoras, esposas de ex-combatentes, deslocou à galeria no Bairro Alto para assistir ao ensaio e dar o seu parecer sobre o tema.

• Deparamo-nos com uma sala mediana, com vinte cinco caixotes de cartão, ordenados em fileiras e um outro rectangular ao lado, a minha sensação pessoal e creio que se estende a todas as outras senhoras que assistiram ao espectáculo, foi a de que, os caixotes expostos representavam os soldados em parada, ou por outro lado também me deu a sensação de caixões de soldados mortos, como víamos tantas vezes há 44 anos atrás (desde 1961).
• Quando para nosso espanto do caixote comprido sai a artista (e utilizando a expressão da época, “ os soldados eram atirados para o Ultramar como carne para canhão”), que vai protagonizar a vida dos soldados durante o tempo (mais ou menos 24 meses) que os mesmos estiveram no Ultramar, ou seja na guerra.
• A meu ver os caixotes representavam etapas nas suas vidas, pois que a personagem no seu monólogo, vai virando caixote a caixote e, dentro dos mesmos vão saindo memórias desconfortáveis e violentas da passagem destes homens pela guerra.
• Os sons violentos no palco da guerra, a sensação de frustração, a impotência dos mesmos perante o que se lhes depara, as saudades da família e de uma juventude que lhes foi roubada, os sons horríveis do material bélico ao redor dos homens, as vidas ceifadas que presenciaram dos seus camaradas, tudo isto provoca um turbilhão de sentimentos e revolta, ao mesmo tempo a impotência a que eram obrigados, pois os jovens eram metidos em barcos ou aviões e nem lhes diziam para onde iam, nem o que iam fazer, quando se aperceberam do horror a que eram obrigados pelo “ Dever à Pátria “, tudo isto ficou interiorizado de tal modo, que as reacções e os efeitos da guerra dessa época, ainda hoje os seus reflexos os acompanham, e têm os seus efeitos aterradores nos maridos, pais, filhos e netos deste país.
• Pois bem, este monólogo muitíssimo bem interpretado pela actriz Sª. D. Fernanda Lapa, está representado com uma intensidade e emotividade que nos transporta para os palcos da guerra real (Moçambique, Angola, Guiné), quando este monólogo magistralmente interpretado finaliza, sentimos o coração pequenino e apertado, os olhos marejados de água e todo o nosso corpo colado e esmagado à cadeira, tal é a realidade transmitida.
• O meu conselho a todas as pessoas é:
• - Não deixem de ir ver o espectáculo, é digno de ser visto, mas é tão intenso, tão forte, tão real, é de que os homens personagens involuntários deste palco, sejam elucidados do que vão ver, pois pela certa, lhes vai trazer lembranças intensas de uma realidade e de factos vividos que ficaram retidos no subconsciente, e que não são os mais agradáveis de suas vidas.
• Lisboa 27/10/2006
• Margarida Simão

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